Pedro Almodóvar vai presidir ao júri do Festival de Cannes

Realizador de Julieta, que já integrou o júri em 1992, nunca venceu a Palma de Ouro. Já foi considerado, por isso, o grande perdedor.

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Pedro Almodóvar em Cannes, no ano passado, apresentando Julieta Regis Duvignau/ REUTERS

Um “ícone flamejante do cinema espanhol e um realizador célebre em todo o mundo”. É assim que a direcção do Festival de Cannes anunciou, esta terça-feira, a escolha de Pedro Almodóvar para presidir à 70.ª edição do certame, que vai decorrer de 17 a 28 de Maio.

E Pierre Lescure, presidente, e Thierry Frémux, delegado-geral do festival, continuam: “Cannes está feliz por acolher um artista único, que usufrui de uma imensa popularidade. A sua obra está já inscrita para sempre na história do cinema”. E recordam “a longa fidelidade” que une Almodóvar ao festival francês, onde já integrou o júri em 1992, sob a presidência de Gérard Depardieu, onde já estreou seis dos seus filmes (cinco deles em competição), mas onde curiosamente nunca conquistou a Palma de Ouro – apesar de ter já tido direito a um Óscar de melhor filme estrangeiro com Tudo Sobre a Minha Mãe (1999), que em Cannes lhe valeu "apenas" o prémio da realização.

No comunicado em que anuncia o presidente do júri, a direcção cita também a reacção do realizador de Julieta à sua escolha: “Sinto-me muito feliz por celebrar o 70.º aniversário nesta função tão privilegiada, mostro-me reconhecido e honrado, mas também com medo. Ser presidente do júri é uma pesada responsabilidade, e espero mostrar-me à altura das circunstâncias. Posso prometer que vou devotar-me de corpo e alma a este desafio que é simultaneamente um prazer e um privilégio”.

Pedro Almodóvar, autor de quase duas dezena de longas-metragens desde Pepi, Luci, Bom e Outras Tipas do Grupo (1980) – assinala o Festival de Cannes, não referindo o seu filme anterior Folle... folle... fólleme Tim! (1978), com Carmen Maura ­–, é uma das presenças mais recorrentes na história do festival francês nas últimas décadas. É também muitas vezes considerado “o grande perdedor de Cannes”, já que, apesar de ter sido seleccionado para a secção competitiva por cinco vezes, só conseguiu, para além do prémio já citado para Tudo Sobre a Minha Mãe, os prémios pelo argumento e pela interpretação feminina do colectivo constituído por Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo, Yohana Cobo e Chus Lampreave, em Voltar (2006).

Os seus outros filmes exibidos em Cannes foram Abraços Desfeitos, A Pele Onde Eu Vivo (2011) e Julieta (2016), além de Má Educação (2004), que abriu a 60.ª edição do festival.

De regresso ao comunicado de Cannes, o festival apresenta Almodóvar – que é o primeiro espanhol a presidir ao certame – como “autor de uma filmografia deslumbrante e iconoclasta, um contador de histórias virtuoso”, abordando temas como a paixão, o destino, a culpa, e géneros como a tragédia, a farsa, o vaudeville, o fantástico, a comédia musical e o thriller.

Em perto de 20 longas-metragens, o realizador criou “uma obra incandescente, herdeira da juventude punk e contestatária, uma paixão insaciável pelas personagens femininas e pela história do cinema”, referem ainda os directores do festival, citando a presença de marcas de cineastas como Douglas Sirk, Georges Franju, Alfred Hitchcock ou Luis Buñuel.

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