Emigração para Angola subiu 32% em 2015

Crise financeira não afectou as saídas de portugueses. Dados surpreenderam até o Observatório da Emigração. Em 2016, a descida, porém, está quase certa, diz sociólogo Rui Pena Pires.

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O Banco de Portugal registou uma diminuição de 14% das remessas de emigrantes vindas de Angola em 2015 © SIPHIWE SIBEKO / Reuters

 A emigração portuguesa para Angola subiu 32% em 2015, um dado que surpreendeu até o Observatório da Emigração já que tudo apontava para que os efeitos da crise económica se fizessem sentir nesse ano. Isto significa que 6715 portugueses terão saído para Angola, mais 1617 do que em 2014, de acordo com aquele organismo.

Os dados são “completamente inesperados”, para o sociólogo Rui Pena Pires, coordenador científico do Observatório da Emigração. “Estava à espera que, com a descida do preço do petróleo, já houvesse consequências da crise [no fluxo] da emigração portuguesa em 2015”, comentou ao PÚBLICO. Em 2016, o sociólogo prevê, aí sim, uma consequência directa da crise na emigração com a descida das saídas de portugueses para Angola, já que as “dificuldades foram sempre em crescendo” e “são cumulativas”.

Por outro lado, os dados divulgados ao Observatório da Emigração referem-se aos vistos atribuídos pelos consulados de Angola em Lisboa e no Porto, e não incluem os do consulado de Faro, pelo que os números ainda podem ser maiores. Sobre estes vistos, não se sabe se são novas entradas ou renovações. Em 2009 registou-se uma das grandes vagas de emigração portuguesa para Angola com mais de 23 mil registos.

Mais de 126 mil portugueses em Angola

Segundo os números oficiais há mais de 126 mil portugueses em Angola mas Rui Pena Pires chama a atenção para o facto de muitos desses puderem ser na verdade filhos de portugueses ou portugueses que vivem em Angola desde sempre, não sendo por isso emigrantes. Os dados mais fiáveis para aferir a emigração são os dos inscritos nos consulados como nascidos em Portugal – um número que só existe para 2013, ano em que se registaram quase 39 mil. Quando forem divulgados os dados do Censos de Angola o retrato ficará mais claro.  

Já em relação às remessas de emigrantes, o Banco de Portugal registou uma diminuição de 14% em 2015 (os valores desceram de quase 248 milhões para 213 milhões), depois de um salto positivo de mais de 80% entre 2011 e 2012. Apesar de ser importante para Portugal em termos de remessas, o movimento para Angola tem vindo a descer desde 2013. Aqui deve-se ter em conta não apenas as dificuldades de transferência de dinheiro de Angola para Portugal relatadas por vários cidadãos e empresas, como a própria desvalorização da moeda angolana, o kwanza: “É difícil saber se a descida tem a ver com o envio de menos dinheiro efectivamente ou com o facto de o dinheiro valer menos”, ressalva Pena Pires.  

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