Paquistão
Ser paquistanês e transgénero
Nesta festa, Shakeela é o centro das atenções. “Este é um importante, e o mais feliz, momento da minha vida”, exclama. Num edifício em Peshawar, no Paquistão, celebra-se a sua festa de “nascimento”, um evento que procura comemorar a vida de uma pessoa transgénero, na qual os convidados trazem presentes e dinheiro para ajudar essa pessoa a iniciar um pequeno negócio ou um projecto.
Mas, num país onde os cidadãos transgénero vivem sob uma forte ameaça de violência, esta não é uma festa comum, despreocupada. Se no interior se dança e se come bolo, à entrada do edifício elementos da polícia armados revistam os convidados e barram aqueles que não apresentam convite.
“É a primeira vez numa década que organizamos abertamente uma festa assim”, explica Farzana Jan, líder da organização Trans Action Pakistan. Segundo Jan existem pelo menos 500 mil cidadãos transgénero no Paquistão, um país com 190 milhões de habitantes.
Ainda que frequentemente trabalhem em casamentos e outras festas, sobretudo a dançar, o direito dos transexuais organizarem as suas próprias festas nem sempre é garantido. As autoridades locais proíbem-nas e a polícia costuma efectuar rusgas naquelas que apesar de tudo acontecem.
No entanto, um caso ocorrido em 2016, quando uma activista transgénero alvejada seis vezes não foi aceite num hospital de Peshawar acabando por morrer, amenizou algumas posturas mais radicais.
A festa de Shakeela é porventura fruto dessa mudança. “Tinha medo de não conseguir viver este momento, já que demorámos tanto tempo a convencer as autoridades a deixarem-nos organizar o evento”, explica à agência Reuters. Mesmo sem autorização escrita, não houve uma proibição e a polícia garantiu a segurança à entrada.
Na maior parte do Paquistão, os cidadãos transgénero são rejeitados pelas suas famílias e acabam por ter de recorrer à mendicidade ou à prostituição para sobreviverem.
No entanto, nos últimos anos tem havido uma reconhecimento, ainda que lento, dos seus direitos. Este mês, um tribunal paquistanês decidiu que as pessoas transgénero iriam, pela primeira vez, integrar o censo nacional. Em 2012, o Supremo Tribunal tinha decretado igualdade de direitos para os cidadãos transgénero.
Ainda assim, os activistas, que convivem diariamente com a perseguição e com os entraves legais, admitem que há ainda um longo caminho pela frente.