Trump pôs a "América primeiro" e a China começou a liderar o mundo
Ao país fechado do Presidente dos EUA, Xi Jinping contrapõe outro lema: "Um destino comum para a humanidade", como sintetizou um general.
A China está calmamente a concretizar a sua aspiração de assumir a liderança mundial, do comércio global às alterações climáticas, marcando a diferença entre a liderança segura de Xi Jinping em relação ao Presidente dos EUA, Donald Trump, cujos primeiros dias no cargo estão a ser marcados por polémicas com os media e protestos.
Dias depois de Trump ter tomado posse, um muito seguro Xi esteve na Suíça onde foi o principal orador do Fórum Económico Mundial de Davos, tendo defendido vigorosamente a globalização e sublinhando o desejo de Pequim ter um maior papel no palco mundial.
Até na questão espinhosa do Mar do Sul da China, Pequim não mordeu o isco que foram as declarações da Casa Branca, proferidas esta semana, sobre "defender territórios internacionais" em águas disputadas. Em vez disso, a China vincou o seu desejo de paz e pediu contenção a Washington.
"Vocês têm o vosso lema ‘América primeiro', nós temos o nosso ‘Um destino comum para a humanidade’", escreveu no seu blogue o general na reserva chinês Luo Yuan, uma figura de proa do aparelho militar chinês que era conhecido pelo seu tom agressivo. "Vocês têm o vosso ‘país fechado’, nós temos a nossa ‘uma via, uma rota’", escreveu, referindo-se ao programa de biliões de dólares de comércio e investimento conhecido por Nova Rota da Seda.
E enquanto a China tem dito, repetidamente, que não deseja desempenhar o papel tradicional dos EUA como líder do mundo, um alto diplomata chinês admitiu esta semana que esse papel pode ser imposto à China. "Se alguém disser que a China está a assumir a liderança do mundo, eu digo que não é a China que se está a chegar à frente, mas os que estavam no primeiro pelotão que se chegaram para trás, deixando o lugar à China", disse Zhang Jun, director-geral do departamento de economia do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A mensagem foi reforçada esta semana quando Trump retirou os EUA do acordo de comércio Parceria Transpacífico (TTP, na sigla inglesa), distanciando o país dos seus aliados asiáticos. Vários membros do TPP disseram querer incluir a China no pacto, ou aderir ao acordo de comércio livre alternativo lançado por Pequim.
"Em muitos importantes fóruns multilaterais, o líder chinês tem apresentado as propostas da China, acrescentando ímpeto positivo para o desenvolvimento do mundo", escreveu na edição internacional do Diário do Povo (oficial) Su Xiaohui, investigador do Instituto de Estudos Internacionais, apoiado pelo MNE de Pequim.
"No processo de integração económica da Ásia-Pacífico, comparado com certos países que constantemente recordam a sua liderança do mundo, aquilo a que a China dá mais importância é à ‘responsabilidade’ e à ‘aceleração’", considerou Su.
Em Maio, a China vai realizar uma conferência internacional sobre a sua "Uma via, uma rota", no que é a oportunidade de Pequim mostrar que lidera em infra-estruturas e investimento. Uma fonte diplomática que está por dentro dos preparativos disse que a China deverá realizar a conferência no mesmo imponente centro de conferências usado para a cimeira de Cooperação Económica Ásia-Pacífico no Verão de 2014, criando um palco para o acontecimento diplomático mais importante do ano promovido por Xi. "A China está a convidar toda a gente", disse o diplomata.
Outra área em que a China gostaria de ser vista como líder são as alterações climáticas. Trump considerou-as um "esquema" e prometeu retirar os EUA do Acordo de Paris. Li Junhua, chefe do departamento do MNE chinês para as organizações internacionais e conferências, disse: "No que diz respeito à China, o meu Presidente deixou claro, bem claro, que a China vai cumprir a sua parte."
Nem sempre foi assim. A China está a atravessar um longo e duro caminho de aprendizagem para se tornar uma potência mais responsável. Em 2013, a China, furiosa com Manila devido às disputas no Mar do Sul da China, enviou uma magra ajuda para as Filipinas, que tinham sido atingidas pelo super-tufão Haiyan, o que provocou uma rara dissidência por parte do influente, e estatal, jornal Global Times, que escreveu que a imagem da China seria afectada por isso.
Mas também não vai ser tudo um mar de rosas. Em certos temas-chave, como o estatuto de Taiwan, a China não recuará. Na primeira reacção à tomada de posse de Trump, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros pediu à nova Administração para perceber a importância do princípio "uma China", que Trump questionou, segundo o qual Washington reconhece a posição da China sobre a soberania de Taiwan.
A China também espera que a Administração Trump não toque numa questão que tem provocado fricção com Washington — os direitos humanos. A conta WeChat da edição para o estrangeiro do jornal do Partido Comunista Chinês, o Diário do Povo, notou com agrado que no discurso inaugural Trump não mencionou as palavras "democracia" e "direitos humanos". "Olhando para trás, talvez estas coisas tenham sido demasiado empoladas pelos políticos americanos", lia-se.