Sampaio da Nóvoa vai distribuir 61 mil euros da campanha por projectos sociais

Um ano depois das presidenciais, Sampaio da Nóvoa quebra um longo silêncio, auto-imposto. Numa entrevista que poderá ler no PÚBLICO esta terça e quarta-feira, o segundo candidato mais votado começa por explicar o que fez ao lucro da campanha

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António Sampaio da Nóvoa falou com o PÚBLICO na Universidade de Lisboa, da qual foi reitor Enric Vives-Rubio

O resultado não foi o que desejava - até porque acreditou "até ao último minuto" que conseguiria forçar uma segunda volta. Mas as outras contas da campanha do antigo reitor, que se apresentou como candidato independente de esquerda, sem o apoio de nenhum partido com assento parlamentar, acabaram por ser positivas.

Entre Abril de 2015 e Janeiro de 2016, numa longa campanha que o levou a dar várias voltas completas ao País, António Nóvoa gastou 924,7 mil euros. Como obteve mais de um milhão de votos (22,88%) recebeu do Estado 897 mil euros de subvenção. Acrescia a isto o valor de donativos e outras iniciativas de angariação de fundos que a candidatura recolheu junto dos seus apoiantes. Resultado: Um lucro de cerca de 61 mil euros. Como o dinheiro não pode, legalmente, ser devolvido aos doadores, o candidato decidiu distribui-lo por vários projectos sociais que se enquadram "nas causas da candidatura". É isso que o leva, esta segunda-feira, a falar de novo perante um plateia de jornalistas (confessa que disso não tinha saudades).

Horas antes, recebeu o PÚBLICO na sua antiga casa, a Reitoria da Universidade de Lisboa, na sala de refeições que Daciano da Costa desenhou para os reitores (e que não usou para esse fim, quando esteve à frente da Universidade). A sala, que tem um tecto abobadado, com pequenos hexágonos, e uma mesa oval e cadeiras desenhadas pelo mesmo arquitecto, é em igual medida deslumbrante e gelada. Na entrevista completa, que pode ler mas edições de terça e quarta-feira do PÚBLICO, António Nóvoa faz o balanço de um ano de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência, elogia e critica o seu antigo oponente, comenta o impasse europeu e não fecha a porta a um regresso.

Fez um orçamento de campanha, recolheu donativos e, face ao resultado, recebeu uma subvenção do Estado que lhe permitiu pagar todas as despesas. O dinheiro que sobrou dos donativos vai agora doá-lo a vários projectos. É assim?
O dinheiro que sobrou não vem do financiamento público, que é apenas reembolsado em função de documentos de despesa. Recebemos o que foi gasto. Este dinheiro resulta de sobras de donativos e iniciativas de angariação de fundos. Quis redistribui-lo ao cêntimo. São cerca de 61 mil euros. As contas da campanha, do ponto de vista legal, são feitas a seis meses, de 24 de Julho a 24 de Janeiro, mas como a minha candidatura foi lançada em Abril, houve também um conjunto de despesas que tiveram de ser assumidas. Hoje distribuímos este dinheiro e fechamos tudo.

Esse dinheiro vai ser distribuído por iniciativas que escolheu?
Foram propostas que foram surgindo. Recebemos muitas propostas. A nossa opção foi doar a pequenos projectos. Os maiores, ou lhes dávamos a totalidade ou não fazia sentido. Depois houve uma equipa de pessoas que foi olhando para os projectos, com o apoio dos meus mandatários e chegou-se aqui.

Começou a pensar nisso logo após as eleições?
Primeiro houve um trabalho de apuramento das contas, fecho de contas, entrega no Tribunal Constitucional. Isso ainda demorou uns meses.

Há algum projecto que seja particularmente interessante, do seu ponto de vista?
Todos eles têm componentes sociais, culturais. De um modo ou de outro, todos estão enquadrados nas nossas causas de cidadania. As que quisemos destacar mais foram as causas dos movimentos sociais, da igualdade e do combate às discriminações, o ambiente e as alterações climáticas e as questões do desenvolvimento local, cidades. Transversalmente, as causas do conhecimento, da educação e da língua. Aí houve duas propostas nossas. Olhámos para o mapa do país e escolhemos quatro cantos de Portugal, que não são rigorosamente verdadeiros do ponto de vista da distância: Melgaço, no noroeste, Miranda do Douro, no nordeste, no sudeste Barrancos e Vila do Bispo no sudoeste. Decidimos atribuir uma verba para que alunos das escolas destes concelhos venham fazer uma visita aos órgão de soberania em Lisboa - Presidência da República, Assembleia, Governo.

Coordenada por si?
Nós acabaremos tudo hoje. Não queremos deixar nada... A partir de amanhã não teremos qualquer tipo de serviços, de contabilidade. Isto será atribuído à escola, que decidirá qual a maneira de realizar as visitas, contactando com os órgãos de soberania. Também decidimos atribuir duas bolsas para o apoio aos estudos no ensino superior a dois alunos, os melhores que recebem apoio social, dos dois concelhos com maior participação nas eleições para a Presidência da República.

Uma espécie de prémio pela afluência?
Não são os concelhos onde eu tive mais votos, mas aqueles onde houve maior participação eleitoral. Depois de consultados os resultados são Vila de Rei e Sardoal [NR: em ambos os concelhos, que são vizinhos, venceu Marcelo Rebelo de Sousa]. Pedimos às escolas que nos identificassem os dois melhores alunos, que recebem acção social escolar. Essas bolsas serão entregues hoje. Mas não queremos expor as pessoas do ponto de vista pessoal. Nós decidimos também atribuir uma verba a dois alunos com necessidades educativas especiais nos Açores, em Rabo de Peixe, mas não vamos divulgar os nomes.

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