Merci, Mr Trump
Trump ainda não percebeu que já não é um outsider ou contrapoder. Ele agora é o poder e tem poder: não pode ter no saco e no papo ao mesmo tempo. É o presidente dos Estados Unidos. Fala pelos Estados Unidos. Tem, à disposição dele os poderes brutais e físicos da coacção militar e económica.
Ele é agora o statu quo. Já não é o rebelde que quer conquistar a fortaleza. Está instalado na fortaleza. E agora, quando fala, já não fala só por ele. Posto doutra maneira, herdou todas as antipatias dos Estados Unidos como grande potência.
Quando ele diz mal da União Europeia já não é uma opinião pessoal de quem gosta de ser politicamente correcto. Está a dizer mal, como Presidente duma superpotência, doutra superpotência que é, mais do que amiga, rival. Politicamente não poderia ser mais diferente.
O efeito Trump agora é ao contrário. A União Europeia fica fortalecida quando ele a ataca. Acontece o mesmo com a indústria automóvel da Alemanha. Quanto mais Trump marra contra ela mais os europeus torcem por ela.
A oposição oficial dos EUA, na pessoa do presidente Trump, vai ser uma injecção de adrenalina no coração da UE. Ao colocar os EUA como mais isolacionistas e proteccionistas do que sempre, Trump está a desafiar e a estimular directamente o projecto político da UE, dando-lhe um impulso de unidade e de exemplo de que a própria UE carecia dramaticamente.
Mais facilmente a UE aprende a viver sem os EUA ou o Reino Unido do que vice-versa. Afinal são só dois países cada vez mais fechados e monocórdicos.