Trump diz que "Brexit" será um sucesso e volta admitir levantar sanções à Rússia
Em entrevista aos jornais The Times e ao Bild, o Presidente eleito afirma que intervenção russa na Síria foi "muito má" e diz que NATO "é obsoleta" mas muito importante.
Donald Trump, que tomará posse como Presidente dos Estados Unidos na próxima sexta-feira, revela, em entrevista aos jornais The Times e Bild, um pouco mais sobre o que será a sua política externa – assegura que o “Brexit” será um sucesso; critica a intervenção militar da Rússia na Síria, mas sugere que poderá levantar as sanções por causa da anexação da Crimeira aceitar se Moscovo um acordo para a redução dos arsenais nucleares. E volta a classificar a NATO como “obsoleta”.
“Eles aprovaram sanções à Rússia – vamos ver se conseguimos fazer alguns bons acordos com a Rússia. Para começar, penso que os arsenais nucleares devem ser substancialmente reduzidos, e isso será uma parte” da negociação, afirmou o Presidente eleito dos EUA, segundo extractos divulgados pelo jornal britânico da entrevista que publicada na edição desta segunda-feira.
Numa entrevista ao Wall Street Journal, na semana passada, Trump tinha já sugerido que poderia levantar parte das medidas adoptadas contra Moscovo após a anexação russa da Crimeia se o Presidente russo, Vladimir Putin, colaborar com os EUA na luta contra o terrorismo. Apesar da melhoria que deseja para as relações com Putin, Trump critica – como ainda não tinha feito – a intervenção militar russa na Síria, descrevendo-a como “muito má” e responsável também “pela terrível situação humanitária” que se vive no país.
Na entrevista, o Presidente eleito volta a criticar a forma como a Aliança Atlântica funciona. “Fui muito criticado quando disse que a NATO é obsoleta […], mas é obsoleta porque não estava a lidar com o terrorismo”, afirmou, voltando a insistir que “muitos dos países [aliados] não estão a pagar o que devem e isso é injusto para os EUA”. “Dito isto, a NATO é muito importante para mim, mas só cinco países pagam o que devem e isso não é muito”.
O "erro" de Merkel
Na entrevista, Trump disse que a chanceler alemã, Angela Merkel, é “de longe a mais importante a líder europeia” – “se olharmos para a UE vemos que é basicamente um veículo para a Alemanha” – mas entende que cometeu “um erro catastrófico” quando, no Verão de 2015, decidiu abrir a porta aos refugiados que fugiam das guerras no Iraque e na Síria. Acrescentou, no entanto, que “toda a gente comete erros” e garantiu que pretende começar o seu mandato “confiando tanto no Presidente russo como na senhora Merkel”.
A chanceler, instada a responder às críticas de Trump, disse apenas estar "à espera da tomada de posse" do novo Presidente, para poder trabalhar em conjunto com ele, e que "os europeus têm o futuro nas suas mãos", relata a Reuters.
Mas na entrevista ao diário Bild, Trump teve ainda tempo para ameaçar os construtores de automóveis alemães com a imposição de tarifas aduaneiras de 35% nos carros exportados para os EUA. As acções da BMW, Daimler e Volkswagen, que têm fábricas no México onde são montados automóveis que depois são exportados para o lado Norte da fronteira, caíram esta manhã na Bolsa de Frankfurt, depois de serem conhecidas estas declarações do Presidente eleito dos EUA.
"Posso avisar a BMW: se estão a construir uma fábrica no México a pensar vender carros nos EUA, sem uma taxa de 35%,m podem já esquecer isso", disse Trump em referência a uma fábrica da construtora que está a ser erguida em San Luis Potosi.
Encontro com May
O Times enviou a Nova Iorque Michael Gove, o antigo ministro de David Cameron que foi um dos rostos da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, para entrevistar Trump. Gove voltou a colaborar com o jornal depois da candidatura falhada à sucessão do ex-primeiro-ministro britânico. Na conversa na Trump Tower, o futuro Presidente norte-americano afirma que sempre acreditou que o “Brexit” iria acontecer e que isso “seria uma coisa boa” – “os países querem ter a sua identidade e o Reino Unido quis recuperar a sua identidade” – e mostrou-se convicto nas hipóteses de sucesso do país: “Penso que vocês estão muito bem e vai correr tudo bem”.
Acrescentou que planeia receber a primeira-ministra, Theresa May, logo após a sua tomada de posse e afirmou que pretende “trabalhar muito com o Reino Unido” para chegar “rapidamente” a um bom acordo comercial que “seja bom para os dois lados”.
Trump teve ainda tempo para falar do Médio Oriente, reafirmando que pretende nomear o genro, Jared Kushner, de confissão judaica, como negociador para o processo de paz israelo-palestiniano e apelando ao Reino Unido que se coloque ao lado da sua administração para vetar eventuais resoluções na ONU críticas que sejam críticas de Israel.