Segurança Nacional continua em tempo quase real
A sexta temporada decorre entre a eleição de um novo presidente norte-americano e a sua tomada de posse.
Presidente recém-eleito tem problemas com os serviços de informação. Soa familiar? Podíamos estar a falar de Donald Trump, que irá tomar posse na próxima sexta-feira como o 45.º Presidente dos Estados Unidos da América e que todos sabemos não tem uma relação pacífica com as NSA, os FBI e as CIA desta vida. Mas é por este território que irá andar a sexta temporada de Segurança Nacional (Homeland), que estreia hoje nos EUA e que começará a ser transmitida em Portugal a partir de quarta-feira (Fox, 23h10). Coincidência? Nem tudo.
Quando os novos episódios começaram a ser produzidos em Agosto do ano passado, ainda se estava em plena campanha presidencial e todas as sondagens apontavam para um cenário que não viria a acontecer, a vitória de Hillary Clinton. Os argumentistas tentaram ser demasiado espertos para o seu próprio bem e a série teria uma mulher presidente, democrata e senadora de Nova Iorque – Clinton, basicamente. Depois, aconteceram as eleições e Segurança Nacional teve de se adaptar à realidade em tempo real.
A Presidente que vamos ver em Segurança Nacional é um composto, segundo admitiu o showrunner Alex Gansa numa entrevista à Entertainment Weekly. “Em todas as temporadas, quando estamos a criar as histórias, ficamos com receio de sermos contrariados pela realidade quando formos para o ar. Este ano fizemos uma aposta abrangente. Ela é um bocadinho Hillary, um bocadinho Trump e um bocadinho Bernie [Sanders]. Trump diz que há gente que vai passando de administração em administração e que vai dando cabo deste mundo. De Hillary, temos o pragmatismo e o conhecimento profundo do que se passa em Washington”, refere Gansa.
Apesar de todos os cenários estarem previstos, fizeram-se algumas mudanças em andamento por causa da eleição de Trump. “Houve cenas que me foram entregues e depois recebia mensagens do Alex a dizer que ele estava a reescrevê-las”, revela o actor Mandy Patinkin, que volta a ser Saul Berenson, um alto responsável da CIA e que, nesta temporada, é um dos que têm de fazer os breefings de segurança à presidente eleita. Mas houve muitas coisas que, sem saber, terão acertado em cheio. “Muito se deve à competência e diligência dos nossos argumentistas, mas também houve alguma sorte. Há coisas que acontecem na nossa história que são incrivelmente parecidas com o que está a acontecer no mundo”, garante Claire Danes, que já ganhou vários prémios pela forma como corporizou a (nem sempre) agente da CIA que sofre de doença bipolar.
Mais uma vez, Segurança Nacional vai andar à volta de uma ameaça terrorista, com mudança de cenário – passa-se sobretudo em Nova Iorque, um dos palcos dos atentados de 11 de Setembro de 2001, evento que não deixa de estar presente ao longo de toda a série. Mas esta não será a história de um ataque terrorista a Nova Iorque. “Não é isso que vamos contar”, diz Alex Gansa ao New York Times. “Para começar, é mau karma, mas também não seria factual. Não há um grande ataque em Nova Iorque desde o 9/11 e criar um seria errado.”
No ar desde 2011, Segurança Nacional é tida como uma das séries favoritas de Barack Obama (em 2012, pelo menos, era) e já tem garantida vida pelo menos por mais duas temporadas para além desta. Se é realista, só os espiões da vida real saberão dizer com propriedade, mas a série sempre teve a preocupação de ser, pelo menos, plausível e próxima da realidade, uma preocupação bem menos evidente que em 24, uma espécie de antecessor de Segurança Nacional, mas com mais porrada – vai regressar em Fevereiro próximo numa versão reduzida de 12 episódios e, até ver, sem Jack Bauer.
Esta verosimilhança de Segurança Nacional também não acontece por acaso. Os produtores tiveram reuniões com especialistas em espionagem e contra-terrorismo, alguns deles conselheiros próximos daquele que será Presidente em funções a partir desta sexta-feira.