Naquelas viagens de metro entre Vila do Conde e o Porto, durante os anos em que se dividia entre o lar, a faculdade e os treinos de basquetebol no Académico FC, Marion Mazer passava horas a desenhar. Pegava no seu moleskine e retratava as pessoas que via. “Era o meu passatempo preferido”, recorda, “e perdi-o desde que vim para aqui [Porto] viver e comecei a trabalhar”. Mal sabia a jovem designer que, quatro anos depois, daquelas mesmas mãos, as suas, sairia a nova imagem do título Andante, aquele que ainda hoje usa na curta viagem de autocarro entre a sua casa, na Boavista, e o trabalho na agência Porto da Comunicação. “Acho que ainda não acredito que as pessoas vão ter na carteira o cartão que desenhei.”
Nascida em Matosinhos, filha de pais franceses (com uma costela italiana), Marion, de 24 anos, foi a vencedora do concurso lançado em Maio pela Transportes Intermodais do Porto com o objectivo de renovar a imagem do sistema Andante, que se mantinha inalterável 2002. Ganhou cinco mil euros e, claro, a oportunidade de ver uma criação sua bem presente no dia-a-dia da cidade já a partir de segunda-feira, 16 de Janeiro. A proposta, inspirada nos azulejos antigos, foi a escolhida entre 400 candidaturas, e a verdade é que a eleição muito a surpreendeu. Logo ela que só enviou a sua depois de a irmã, Prune, muito a pressionar. “Na altura não tinha ficado com muito boa impressão do meu trabalho e ela disse-me: participa pelo sim pelo não e, se ganhares, pagas-me um jantar.”
Não sabemos se a dívida já foi cobrada, mas olhando para trás alguma da insegurança já desapareceu. “É difícil pôr tudo o que a cidade significa num só cartão”, admite. Conjugar “mobilidade e inovação” com o peso da “história”. Quando se decidiu a participar no concurso (do qual teve conhecimento através do P3) passou uma semana a ver fotografias da cidade, a analisar títulos de transporte de outros locais e, principalmente, a andar nas ruas. “Se tenho de me inspirar no Porto, a melhor maneira é andando.” Não para ver os espaços novos, mas para calcorrear as artérias antigas. “Sou daquelas pessoas que vai na rua a ir contra os postes porque estou a olhar para cima, para coisas no chão, para as pessoas”, graceja. Depressa se apercebeu que não se iria centrar em desenhar monumentos ou paisagens (“Isso já foi feito”), antes naquele que, para si, é um dos grandes ícones da cidade: o azulejo. “Que as pessoas reconhecem que é Porto.” E de mais lado nenhum. “Isto nunca poderia ser um cartão de Paris, por exemplo.” E, sim, em todo este processo, a nova imagem da Câmara da autoria do White Studio, que também se inspirou no mesmo elemento, não lhe foi indiferente.
Armada de Adobe Illustrator, concebeu dois cartões em que padrões de azulejos brincam com linhas que indicam movimento — e vice-versa. Um azul escuro, em papel, e outro prateado, que substitui o antigo cartão dourado em PVC. “É uma imagem que fala alto mas não berra”, descreve Marion, que se licenciou em Tecnologia da Comunicação Multimédia pela ESMAE. Para transmitir “vida”. “Quis mostrar que o Porto está em constante movimento. É uma cidade que é alegre para se estar, tenho orgulho de viver cá e todos os dias há coisas novas que se podem fazer e coisas novas que nos passam ao lado, que poderíamos ter feito e não fizemos. Não é só movimento... é ênfase, excitação.” Efervescência? “Sim, acho que está em efervescência. Tentei passar isso com este design e espero ter conseguido.”