Reabilitar o Cinema Batalha “é o projecto das nossas vidas”

Os arquitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, que visitaram esta sexta-feira o edifício com Rui Moreira, não arriscam datas para a reabertura: “O projecto não é simples, portanto tenham paciência”.

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A sala principal do Cinema Batalha no estado em que hoje se encontra Adriano Miranda
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Rui Moreira visitou o edifício com os aqruitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez Adriano Miranda

“Uma coisa importantíssima é não estragar o que está feito” e tentar “recuperar o que foi destruído”, disse esta sexta-feira de manhã Alexandre Alves Costa, convidado pela Câmara do Porto a apresentar um projecto de reabilitação do Cinema Batalha. Mas o arquitecto, que falava após ter acompanhado Rui Moreira numa visita ao edifício, também defendeu que é “indispensável" que o Batalha, exemplo de modernidade nos anos 40, quando foi inaugurado, se adapte aos tempos e “reencontre a sua modernidade no século XXI”.

Além de “recuperar o que for recuperável”, Alves Costa e Sérgio Fernandez – cujo Atelier 15 foi já responsável pela reabilitação do Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos – terão ainda de arranjar espaço para “as novas valências que vierem a ser consideradas necessárias” para transformar o Batalha, como pretende Rui Moreira, na casa do cinema do Porto. E se o presidente da Câmara já avisara que a sala dificilmente reabriria antes de 2018, os arquitectos não se comprometem com datas: “Este não é um projecto simples, portanto tenham paciência”.  

Do que Alexandre Alves Costa não duvida é da relevância da empreitada que lhe foi confiada. “É uma obra central para a cidade, e para nós é uma honra e uma alegria muito grande”, disse o arquitecto. “No fim da vida, é o projecto das nossas vidas”, garantiu.  

Não poupando elogios a Artur de Andrade (1913-2005), autor do projecto original, Alves Costa diz que “fazer uma obra com esta modernidade em 1946, em pleno fascismo, é uma coisa absolutamente extraordinária, e um gesto de resistência contra as imposições da época”.

E lembra que, para lá da arquitectura, também “a arte decorativa” do edifício foi encomendada a “gente especial”, como Júlio Pomar, que desenhou “um fresco que a PIDE mandou picar, porque tinha um menino pobrezinho a comer uma sopa”. Também o baixo-relevo exterior sofreu uma intervenção censória: “Tinha uma camponesa com uma foice e, um bocado afastado, um operário com um martelo, e julgo que a PIDE picou o martelo”, diz Alves Costa, declarando-se favorável a que se devolva o instrumento de trabalho ao proletário em causa. Já o fresco de Pomar é, infelizmente, irrecuperável.

Filho de um importante historiador e crítico de cinema, Henrique Alves Costa, que foi também um dos primeiros a bater-se pela criação de uma Cinemateca no Porto, Alexandre Alves Costa é ele próprio cinéfilo e dirigente cineclubista, e foi um frequentador regular do Batalha. “Vir ao Batalha era a garantia de vermos um bom filme”, disse o arquitecto, mérito que atribuiu a Luís Neves Real, o homem que então geria a programação das várias salas de cinema da empresa Neves & Pascaud, com a qual Rui Moreira negociou agora um contrato de arrendamento do Batalha por um período de 25 anos.

O presidente da Câmara do Porto, que falou brevemente com os jornalistas antes de passar a palavra a Alves Costa, assumiu que a Câmara tentou adquirir o edifício, mas que acabou por negociar uma solução de arrendamento a longo prazo, porque os proprietários deixaram claro que “não gostariam de se desfazer daquilo que herdaram”.

O contrato, que irá agora ser submetido a aprovação em reunião de câmara na próxima terça-feira, dia 17, prevê que a autarquia pague uma renda de 10 mil euros mensais, o que dá um total anual de 120 mil euros, ligeiramente abaixo do valor de mercado, calculado em 133 mil euros por um avaliador independente.

“Havia no Porto uma sensação de perda em relação ao Batalha, e a sensação de que este monumento não podia continuar na situação em que estava”, disse Moreira. “Mas também não queríamos que o Batalha fosse outra coisa qualquer”, acrescentou, convicto de que a solução encontrada protege os “legítimos direitos dos proprietários” e serve os interesses da cidade.   

Será a Câmara a suportar exclusivamente os custos do projecto e das obras de reabilitação, e Moreira assumiu que a futura gestão e programação do edifício serão também assumidos pelo município. E se ainda não existe um programa detalhado, a própria proposta de contrato de arrendamento já adianta muito do que se pretende para esta futura casa do cinema: “sessões regulares de cinema de arquivo, em formatos analógicos e digitais”; “disseminação de discursos contemporâneos na área do cinema sem canais de difusão no circuito comercial e nos festivais existentes”; “apoio a programadores e distribuidores na apresentação de novas cinematografias”; “apoio à investigação”; ou ainda “acções de cruzamento disciplinar” entre o cinema e outras artes.

Tal como já fizera na quinta-feira, quando anunciou o acordo conseguido com a empresa da família proprietária do Batalha, Moreira voltou agora a insistir no desejo de “ter uma colaboração activa com a Cinemateca”.

Como Alves Costa, também o autarca tem muitas recordações do Cinema Batalha, que frequentou regularmente ao longo dos anos 60 e 70. “Lembro-me de vir aqui em criança com a minha avó, e de irmos à casa de chá", lembra Rui Moreira, evocando um espaço há muito desaparecido, sacrificado à abertura da Sala Bebé, inaugurada em 1975.

 

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