Na entrevista que publicámos em Dezembro com Romy Madley-Croft, em antecipação a este esperado terceiro álbum dos The xx, ela avisara: “Neste disco abrimos as janelas e deixámos entrar a luz, sem nos preocuparmos tanto, mas não deixamos de ser nós próprios por causa disso.” Parece-nos uma imagem feliz.
O terceiro álbum dos The xx é isso. Não está tão dependente de expectativas alheias, apresenta subtis alterações em relação ao passado recente, mas nada que ponha em causa a identidade sonora do trio. A concepção espacial, os ambientes monocromáticos, o jogo entre dinamismo rítmico e vozes introvertidas mantém-se, mas é tudo mais expansivo e luxuriante.
Dir-se-ia que depois de dois álbuns e de um sucesso que os próprios reconhecem ter sido inesperado, foram obrigados a assumir-se mais enquanto colectivo. Olharam-se ao espelho, confrontando-se com as suas expectativas e com o desejo de concretizarem mudanças sem que perdessem as suas características basilares. Não deixaram a vulnerabilidade ou a fragilidade de lado, mas assumem essa condição com confiança, transportando-a para momentos reflexivos como Performance, com a voz de Romy acompanhada apenas por alguns acordes de guitarra, ou para Dangerous, imersos numa atmosfera dançante.
Em termos musicais é um disco que expande a sua paleta sonora, com maior dinamismo rítmico numa série de faixas, e um calor mais sensual e exuberante, o que parece ter sido influência directa do último álbum de Jamie xx a solo (In Colours, 2015), embora a sensação de proximidade nunca se perca pelo caminho, num jogo onde contenção e exteriorização coexistem em harmonia
Na mesma conversa, Romy dizia-nos que existiu uma canção que acabou por dar forma a todo o processo criativo, sendo desde logo a origem do nome do álbum: I’ll be your mirror, canção de 1967 dos Velvet Underground. Isso pressente-se ao nível das letras. As relações interpessoais continuam presentes, mas a desilusão é substituída pela possibilidade de encontro ou de reconhecimento naquilo que o outro nos devolve, como se o trio reflectisse sobre a sua amizade, e sobre as circunstâncias da sua existência nos últimos anos, descobrindo-se enquanto grupo nesse movimento.
Nesse sentido I See You é um álbum de transformação na continuidade. O que acaba por ser uma boa notícia.