Perfil de jornalista está em mutação e especialização será mais-valia
Docentes Paulo Martins, do ISCSP, e Luís Santos, da Universidade do Minho, acreditam que a especialização é uma alternativa para os jornalistas, que actualmente já não são os únicos "fazedores" de notícias.
O perfil da actividade de jornalista está "em mutação" e a aposta na especialização será uma "mais-valia competitiva" no futuro, consideram os professores universitários Paulo Martins (ISCSP) e Luís Santos (Universidade do Minho), respectivamente.
"O perfil de jornalista está em mutação. Deixámos de ser os únicos a divulgar informação, de ter o poder de mediação, de seleccionar fontes", disse, em declarações à Lusa Paulo Martins, professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).
Além disso, "hoje em dia, o jornalista faz milhares de coisas, o que não pode resultar em qualidade", acrescentou. Por sua vez, Luís Santos, professor da Universidade do Minho, apontou que, no futuro, "a profissão de jornalista vai ser mais especializada", o que se traduzirá numa "mais-valia competitiva, aliada a outras competências técnicas", como a de fazer notícias para formatos diferentes.
Além disso, "com base no que está a acontecer, podemos vir a ter uma reconfiguração do espaço do jornalismo e, dessa reconfiguração, poderá resultar o content farms, ou fábricas de conteúdos, que já têm casos de sucesso", as quais resultam na tradução e replicação de notícias, o que "é algo que vai aumentar", considerou Luís Santos.
Este professor universitário adiantou que também se poderá assistir à reafirmação do jornalismo, dando o exemplo da compra do Washington Post pelo fundador da Amazon, que reconstruiu a imagem do jornal, "aproximando-o do jornalismo concreto, relevante, com infografia e trabalhos de investigação".
"E, depois, surge outro caminho, que é o da readaptação das empresas que existem a um espaço tendencialmente menor", disse, estimando que venham a surgir novas empresas no sector, mas "mais pequenas".
"O grande jornal com redacções com mais de 100 pessoas vai ser, tendencialmente, uma realidade menos comum", vaticinou. "Temos de encarar as novas plataformas online como uma ferramenta, mas temos de salvaguardar o campo ético", acrescentou, por sua vez, Paulo Martins, considerando que estas plataformas foram o início de um processo.
"Começámos a distribuição de informação, música e cultura na Internet e agora é preciso convencer de que aquilo que é produzido custa dinheiro", advogou.
Paulo Martins adiantou que a comunicação social pretende estar na Google, por exemplo, mas o motor de pesquisa "aproveita-se da informação à borla", recordando que França está a obrigar a um pagamento de uma taxa aos produtores de conteúdos, uma medida considerada "interessante" pelo professor da Universidade do Minho.
Luís Santos salientou que é preciso que estes agregadores de conteúdos - como a Google ou o Facebook, entre outros - se apercebam de que, "se não houver produtores de conteúdos", os seus serviços "também sofrem". Apontou que a Google tem tentado contrariar as críticas que lhe são feitas através do fundo de inovação, que financia projectos inovadores de media na Europa.
O actual modelo de negócio dos media está ultrapassado e "é incontornável encontrar fórmulas de dinheiro sem ser por via jornalística", acrescentou Paulo Martins, defendendo a existência de duas equipas numa empresa de media: uma de jornalistas e outra mais virada para o entretenimento, sendo esta última vocacionada para as áreas de marketing e comercial.
"O modelo exclusivo da publicidade é impensável", pelo que nas empresas "as regras devem ser claras e bem separadas aos olhos do público", afirmou aludindo à existência de “notícias” nos que não são mais do que conteúdos comerciais. Para o professor da Universidade do Minho, pagar conteúdos online não deverá ter futuro: "Vejo mais as empresas a criar conteúdos exclusivos em suporte de papel".
Relativamente ao futuro do jornalismo, Paulo Martins tem algumas reservas.
"Tenho expectativas muito pouco optimistas, acho que vai haver uma grande reformulação e o jornalismo do futuro não vai ser a mesma coisa", disse, concluindo que o jornalismo "pode sobreviver se souber separar as águas".
Para Luís Santos, o jornalismo não se vai extinguir, mas "o que pode desaparecer é um modo específico de organização jornalística".