Imprensa regional "sempre esteve em crise", diz investigador Pedro Jerónimo
O contexto socioeconómico intensificou os problemas das redacções locais apesar de o investigador Pedro Jerónimo identificar algumas mudanças onde o ciberjornalismo de proximidade é uma alternativa.
A imprensa regional "sempre esteve em crise", que se acentuou nos últimos anos, em que enfrentou mudanças importantes, como o aparecimento do jornalismo digital e a maior qualificação das redacções disse esta quarta-feira à Lusa o investigador Pedro Jerónimo.
"No cenário mediático português, se há sector que tem sempre vivido em crise tem sido a imprensa regional. Claro que se agudizou mais com o contexto económico ou social, mas não é propriamente uma novidade. Desde logo falamos de redacções que são mais pequenas em relação às redacções nacionais", disse o investigador, realçando que também a nível nacional e internacional se tem registado uma queda de venda de jornais.
Pedro Jerónimo vai ser orador, no sábado, no painel O Jornalismo de proximidade e a profissão fora dos grandes centros urbanos, no quarto Congresso dos Jornalistas Portugueses, que decorre de quinta-feira a domingo, em Lisboa. O investigador destacou que, apesar de a crise ser de sempre, nos últimos anos as alterações no poder de compra levam a que, quando se fazem contas à vida, a assinatura do semanário regional ou do diário possa ser dispensável.
Por outro lado, as próprias empresas proprietárias destes órgãos de comunicação "também tiveram de fazer, nalguns casos, reestruturações", o que levou redacções que "já eram pequenas a encolher ainda um bocadinho".
Para o investigador, há duas mudanças importantes no jornalismo regional nos últimos anos.
Por um lado, "a Internet veio trazer mais trabalho para os jornalistas, para aqueles que lhe dão atenção ou para as empresas que permitem isso", embora na maioria dos casos não exista uma estratégia e as empresas, salvo raras excepções, continuem a dar primazia ao jornalismo no formato tradicional do papel.
O "ciberjornalismo de proximidade", referiu, tem sucesso sobretudo "em meios em que as redacções são maiores, em que há alguma sensibilidade para isso, em que já se percebeu que se continua a fazer jornalismo, agora não só para o papel, mas também online".
Por outro lado, a qualificação das redacções aumentou. "Aquela ideia de que as pessoas que não tinham qualificação e que iam trabalhar para os jornais porque até escreviam bem, isso mudou desde logo pela proliferação de cursos superiores na área de jornalismo e de comunicação social. As redacções regionais estão cada vez mais qualificadas", destacou.
De acordo com o investigador, é difícil apresentar números quando se fala de imprensa regional e local, por falta de um trabalho contínuo, existindo apenas indicadores. Em 2012, segundo dados da entidade reguladora, existiriam cerca de mil publicações regionais e locais, considerando jornais, nativos digitais (títulos que já nascem na Internet), televisão e as rádios, o que "para a dimensão do país seria significativo". Porém, Pedro Jerónimo constatou que a base de dados estava desactualizada.
Depois de uma triagem e de um trabalho de cruzamento de informação com trabalhos de jornalistas e de outras fontes, concluiu, na sua tese de doutoramento, que "as publicações mais regulares, que se publicavam pelo menos uma vez por semana", seriam 175.
"Depois há muitas com periodicidade mais alargada. Quinzenários, há muitos mensários, geralmente associados a uma realidade mais pequena, geralmente jornais realizados por uma única pessoa, que nalguns casos nem é jornalista, é um faz tudo", descreveu.
O quarto Congresso dos Jornalistas Portugueses decorre de quinta-feira a domingo no Cinema São Jorge, em Lisboa, sob o lema "Afirmar o Jornalismo".