Pessimista, optimista? As respostas dos líderes ao PÚBLICO

O PÚBLICO perguntou aos líderes partidários e a Carlos Costa, Ferro Rodrigues, Carlos Moedas e Rui Rio se as suas previsões eram optimistas ou pessimistas

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Rita Chantre

As perguntas....

1)      Devemos estar pessimistas ou optimistas para o ano que entra? 

2)      Porquê?

3)      Para que datas (ou personalidades) devemos olhar com mais atenção em 2017?

4)      Que prioridade tem para o ano novo?

... E as respostas

Assunção Cristas, líder do CDS

1 e 2) Pessoalmente sou sempre favorável a uma atitude optimista, até porque ajuda a superar obstáculos, construir soluções e encontrar oportunidades. Estou optimista em relação ao papel que o CDS pode desenvolver em 2017, numa oposição firme e construtiva ao governo das esquerdas unidas.

3) Para tudo o que se vai passar na Europa do ponto de vista eleitoral, desde logo França, Alemanha, Holanda, e respectivos protagonistas. Mas também para Trump e a nova administração americana.

4) Trabalhar para merecer a confiança dos lisboetas na disputa para a CML, continuar a afirmar o CDS como voz forte numa oposição intensa ao governo das esquerdas unidas, sempre numa abordagem construtiva.

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal

1) O optimismo ou o pessimismo de cada um ou de cada comunidade está relacionado com a respectiva capacidade para identificar, avaliar e hierarquizar os desafios e as ameaças, para conhecer os meios de que dispõe e para definir uma linha de orientação para superar os desafios e conter as ameaças. No plano colectivo, quando se perspectiva o futuro e nos afirmamos pessimistas ou optimistas estamos a avaliar não tanto o conjunto dos efeitos negativos e positivos que imanam da envolvente geopolítica e geoeconómica, mas muito mais, e sobretudo, a nossa capacidade de resposta endógena. Esta é tanto ou mais importante do que a mera avaliação dos efeitos negativos decorrentes da envolvente política e económica de um dado território.

Neste contexto, poderemos ser mais optimistas, se formos capazes de definir e implementar uma resposta que vise:

- o desenvolvimento sustentado, traduzido no crescimento do produto potencial per capita e do emprego;

- reforçar o braço económico  e os mecanismos institucionais de responsabilização e legitimação da área do euro como um todo, evitando a armadilha de sobrepor as partes ao interesse do todo;

- e defender o mercado único comunitário e o multilateralismo económico e político, como forma de criação progressiva de mecanismos de regulação e governação global que, entre outros, garanta a sustentabilidade ambiental.

3) Mais do que personalidades ou marcos temporais, necessariamente efémeros, devemos olhar para as instituições. É importante defender e reforçar o quadro institucional que garante e legitima a resposta aos problemas e adoptar políticas de investimento que promovam a criação sustentada de emprego, elementos base da vitalidade da sociedade e do afastamento de opções extremistas. No essencial, são necessárias instituições fortes e credíveis no plano nacional e, no plano europeu, é essencial um quadro institucional eficiente, legitimado e sem lacunas.

Carlos Moedas, comissário europeu

1) Eu continuo optimista no longo prazo e pessimista no curto prazo.

2) Porque no longo prazo acredito no futuro do projecto europeu e na capacidade dos europeus de transmitirem às novas gerações que é melhor estarmos juntos que separados. No curto prazo estou pessimista porque os populistas têm conseguido vender ilusões que não são a solução mas que podem fazer regredir o projecto europeu.

3) As datas são simples e cruciais: eleições em França, eleições na Holanda e eleições na Alemanha. 

4) Continuar a lutar por uma Europa aberta. Uma Europa que não tem medo e que luta para manter os seus princípios fundamentais.

Catarina Martins, líder do BE

1) É mais um ano para entrar com o pé gramsciano: pessimismo da razão, optimismo da vontade.

2) 2016 mostrou que nada é inevitável. Mas, na Europa e em Portugal, 2017 será ano de grandes perigos. Inquietação, pois.

3) 23 de Abril e 7 de Maio (primeira e segunda voltas das eleições presidenciais francesas), Trump e Putin.

4) A prioridade de sempre, a prioridade aos de baixo. A desigualdade, a pobreza e a concentração de riqueza estão em níveis apenas comparáveis aos vividos nas vésperas da Segunda Grande Guerra. É uma pressão intolerável sobre a esmagadora maioria da população, com consequências necessariamente desastrosas. Em Portugal, o combate às desigualdades exige em primeira linha a valorização de salários. O salário mínimo nacional é o mais baixo da Europa ocidental e o nosso salário médio está abaixo dos salários mínimos do centro da Europa. Essa valorização exige revogação da legislação laboral da troika, que impôs mais horas e dias de trabalho não pago, a reactivação da contratação colectiva, para valorização de profissões e carreiras, e o combate à precariedade. Os trabalhadores precários recebem menos 30% que os restantes e as mulheres são as principais vítimas. Não por acaso, a desigualdade salarial entre homens e mulheres em Portugal é a mais alta de toda a União Europeia.

Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República

1) As incertezas em 2017 são muitas; o comportamento da nova administração americana, a evolução da União Europeia e do euro, a evolução das taxas de juro em geral e da dívida pública em particular, a capacidade de voto de não rejeição do programa de Governo que a Assembleia da República alcançou há  mais de um ano, conseguindo manter as suas vitalidades.

Sendo naturalmente pessimista, penso que há motivos para algum optimismo.

2) Em 2017, a grande cooperação institucional, manifestada nos níveis mais elevados do Estado, será condição essencial para esse optimismo.

3) Os primeiros cem dias de Trump, as eleições em França, Holanda e Alemanha, a evolução do sistema financeiro italiano e o papel do BCE. A comemoração dos 60 anos do Tratado de Roma, conseguindo ou não o relançamento do ideal europeu. Em Portugal, a preparação do Orçamento de Estado para 2018 e as eleições autárquicas.

4) Continuar a servir o país e a democracia, com dedicação e com o mesmo entusiasmo de sempre.

Heloísa Apolónia, líder de Os Verdes

1) Importa, fundamentalmente, acreditar que é sempre possível dar passos para melhorar a situação do país e dos portugueses.

2) Porque a vida já provou que as opções políticas que são tomadas determinam o nosso futuro colectivo. Se forem tomadas opções políticas com os olhos postos nas pessoas e em áreas tão directamente ligadas à vida concreta, como a educação, a saúde, a qualidade ambiental, a cultura, a agricultura sustentável, a criação de postos de trabalho, o combate à precariedade, entre outros, teremos condições para construir um desenvolvimento que beneficie o país e as suas gentes. Se, pelo contrário, forem feitas escolhas políticas com os olhos postos no grande poder económico e financeiro e nas elites europeias, está mais que provado que nos premiarão com mais desigualdades e mais dificuldades para se atingirem padrões de desenvolvimento dignos e universais. Os Verdes continuarão a propor e a trabalhar para que sejam feitas opções políticas que sirvam as pessoas e a sustentabilidade territorial e ambiental.

3) Não consigo escolher uma data em particular, porque todos os dias serão dias de exigência e de trabalho para que sejam promovidas políticas adequadas. Mas se tivesse que escolher uma, provavelmente escolheria a data de 25 de abril, uma vez que importa recuperar os mais elevados valores dessa revolução, como a solidariedade, a igualdade de oportunidades, a justiça social, para dar resposta às necessidades dos cidadãos e do país.

4) Promoção dos transportes colectivos e, dentro destes, fomentar a oferta do transporte ferroviário, matéria fundamental para combater as desigualdades territoriais, para garantir o direito à mobilidade dos cidadãos e para diminuir as dependências dos combustíveis fósseis - questão fulcral para combater as alterações climáticas. Para travar o aumento de gases com efeito de estufa contribuirá também, e muito, o empenho numa floresta mais resistente aos fogos florestais e numa vigilância que, ao mesmo tempo que cria postos de trabalho, proporciona uma componente preventiva que não deve ser descurada. Se é certo que a saúde e a educação continuarão a constituir também prioridades de intervenção dos Verdes - nesta última com um empenho concreto na redução do número de alunos por turma e na desmaterialização de manuais escolares - a cultura, que tem sido politicamente tão menosprezada, tem que ser valorizada, porque, entre outras coisas, é da nossa identidade e do nosso espírito crítico e participativo que falamos.

Jerónimo de Sousa, líder do PCP

1) Confiantes e inconformados.

2) Porque é possível conseguir com a reposição, consolidação e conquista de direitos, alcançar uma vida melhor, libertar o país dos constrangimentos, para afirmar um Portugal soberano e desenvolvido.

3) 1º de Maio com tudo o que significa. Outubro considerando a batalha das autárquicas.

4) Combate às injustiças e à precariedade, vencer os bloqueios que nos são impostos pelo euro e pela dívida. Dar valor à produção nacional.

Pedro Passos Coelho, líder do PSD

1) Devemos estar realistas, valorizando a ambição para alcançar resultados melhores que os de 2016.

2) Ter em conta a realidade como ponto de partida ajuda-nos a encontrar respostas e soluções robustas, que fujam às encenações enganosas, não escondam as restrições activas e impulsionem reformas mais duradouras.

3) O contínuo de transformação e mudança é que é importante. Devemos, por isso, ter em conta riscos e oportunidades, tanto do ponto de vista interno como externo.

No plano europeu, em particular, problemas antigos como a construção inacabada do edifício da união económica e monetária e a necessidade de aprofundamento do mercado interno e de simplificação e fortalecimento de regras. Bem como os problemas mais recentes, como as ameaças à livre circulação e os problemas de fronteira, o terrorismo e o crescimento do sentimento de insegurança, a divergência na construção económica e social com acumulação preocupante de legados de dívida pública e privada, o crescimento dos populismos e o ressurgimento de tensões nacionalistas. A negociação com o Reino Unido por causa do “Brexit”, e o relacionamento com a nova administração norte-americana são, entre muitas outras, matérias desafiadoras que tanto constituem ameaças disruptivas como podem representar oportunidades para novos níveis de equilíbrio e de consolidação do projecto europeu, que é tão relevante para Portugal. Mas não poderemos deixar de ter em conta as dinâmicas em outros espaços igualmente importantes, quer na comunidade de países de língua portuguesa, quer na Ásia e Pacífico, ou ainda no espaço ibero-americano, entre outros.

4) As prioridades continuam centradas na melhoria da resiliência do país em face da incerteza global, procurando uma sociedade civil mais forte e com maior dinamismo, mais aberta ao mundo e mais coesa e segura quanto possível. Isso consegue-se contrariando o foco das narrativas falsificadoras que o actual governo tem procurado implantar com o intuito de reescrever a história e disfarçar os riscos excessivos em que está a fazer Portugal incorrer apenas para garantir a sua sobrevivência política. Seria por isso relevante que se relançasse uma agenda de reforma económica e social que trouxesse mais confiança e investimento produtivo, nomeadamente externo, que sustentasse uma intensificação das nossas exportações de maior valor acrescentado, o crescimento do rendimento e da poupança e um mais eficaz combate às desigualdades sociais e económicas.

Rui Rio, ex-autarca do Porto

1) Relativamente à situação nacional, nem uma coisa, nem outra. Devemos estar expectantes.

2) Em minha opinião, a atual política governamental não tem sido correcta, mas não tem, necessariamente, que implodir num prazo de 12 meses. Portugal tem de fazer um caminho no sentido da criação sustentada de pequenos excedentes orçamentais, conjugados com uma taxa de crescimento nominal do PIB superior à taxa de juro média da dívida pública. Como isso não está a acontecer, podemos ter problemas muito sérios a qualquer momento. Não nos estamos a preparar, e, assim sendo, basta as taxas de juro subirem um pouco mais. Algo que um dia vai, necessariamente, acontecer.

3) Como pontos específicos de 2017, temos de olhar para Donald Trump, para a situação bancária em Itália e para as eleições na Alemanha e em França. São aspectos que condicionarão fortemente o nosso futuro, sem que tenhamos qualquer forma de os influenciar. E, depois, há todos os habituais problemas que já vêm de trás, a começar pela Síria.

4) Do ponto de vista pessoal as prioridades normais de qualquer pessoa: paz e saúde. Do ponto de vista profissional, ajudar a Boyden a crescer ainda mais em Portugal.

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