"Brexit" leva mais sefarditas britânicos a pedir nacionalidade portuguesa
Candidaturas de descendentes de judeus expulsos no século XV disparam depois do Reino Unido ter decidido sair da UE.
A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia – o chamado "Brexit" – está a levar um número crescente de judeus sefarditas britânicos a pedir a cidadania portuguesa, noticia o The Guardian, confirmando que continua a tendência que se começara a manifestar logo após a votação. Depois de tanto Portugal como Espanha terem aprovado legislação que permite o regresso dos descendentes de milhares de judeus expulsos da Península Ibérica pela Inquisição no final do século XV, o "Brexit" está a dar um inesperado impulso a este processo.
No entanto, concluiu o jornal, o interesse por Portugal é muito superior ao que tem sido, até agora, o manifestado pelos descendentes de judeus espanhóis, de acordo com os dados da Federação de Comunidades Judaicas de Espanha. Uma das explicações poderá ser o facto de Madrid exigir testes de língua aos candidatos à nacionalidade – algo que não acontece em Portugal.
Michael Rothwell, da Comunidade Judaica do Porto, confirmou ao Guardian que o número de judeus britânicos interessados na possibilidade de vir a ter nacionalidade portuguesa aumentou muito desde a votação de 23 de Junho no Reino Unido. Se antes do "Brexit", tinham recebido cinco candidaturas, nos dois meses que se seguiram ao voto houve 400 pessoas a contactar a comunidade. "Julgo que as pessoas estão um pouco nervosas com o que se passou e sentem que ter um passaporte europeu será uma vantagem mesmo que não estejam necessariamente a pensar mudar-se para Portugal", explicou Rothwell.
O mesmo foi dito por alguns dos candidatos ouvidos pelo jornal. “No momento em que ouvimos falar da alteração à lei [em Portugal], disse à minha mulher: ‘Se sairmos da União Europeia, vou candidatar-me à cidadania portuguesa’”, contou um judeu sefardita que preferiu manter o anonimato. “Estou literalmente de luto por causa do 'Brexit'. Sou europeu, cosmopolita e considero todas as formas de nacionalismo bastante odiosas. Se olharmos para os séculos XIX e XX e virmos o que o nacionalismo faz, não é uma história que me deixe particularmente orgulhoso. A decisão de me tornar português é em parte simbólica, em parte protesto e em parte o abraçar de uma herança cultural.”
Outra descendente de judeus sefardistas ouvida pelo Guardian, Gillie Traeger, de 45 anos, explica que a nacionalidade portuguesa é ao mesmo tempo uma forma de reconhecimento das suas raízes familiares e uma maneira de garantir uma identidade europeia mais alargada no mundo pós-"Brexit".
Alison Rosen, director executivo da comunidade sefardita de Londres, confirmou igualmente que houve um grande aumento de procura de informação nos arquivos da comunidade por parte de pessoas interessadas em saber mais sobre as suas raízes sefarditas. O decreto-lei aprovado em Portugal em Janeiro de 2015 prevê a atribuição da nacionalidade a quem consiga provar ser descendente de judeus que foram perseguidos na Península Ibérica. Em todo o mundo existem cerca de 3,5 milhões de descendentes sefarditas de origem portuguesa e espanhola.