Domingues culpa Governo pela derrapagem no calendário de capitalização da Caixa
As declarações do presidente demissionário da Caixa constam de carta de despedida aos funcionários do banco.
António Domingues, que renunciou à liderança da Caixa Geral de Depósitos (CGD), acusa o Governo da derrapagem na calendarização do processo de capitalização do banco, cujo arranque está agora previsto para 4 de Janeiro. O presidente demissionário afirma ainda que cumpriu os prazos na entrega do plano de capitalização elaborado pela sua administração, mas que o calendário final da injecção de capital “resulta de decisão accionista”.
“O plano de capitalização da CGD e o Plano Estratégico, construído pelas equipas da CGD, apresentado e negociado com o accionista e com as autoridades europeias, são os produtos visíveis de um programa de trabalho muito intenso que nos ocupou nos últimos meses, com vista a criar as condições para o crescimento sustentado da Caixa Geral de Depósitos”, pode ler-se no documento a que o PÚBLICO teve acesso.
O Governo guardou para 2017 toda a recapitalização necessária da Caixa Geral de Depósitos com o propósito de salvaguardar o défice orçamental previsto, tendo já o executivo português tido a aprovação para tal do Banco Central Europeu (BCE). "Cumprimos com os objectivos, a capitalização da empresa fora das ajudas de Estado, e com os prazos definidos. O calendário final da capitalização resulta de decisão accionista", refere o presidente demissionário na carta.
A recapitalização da Caixa vai arrancar a 4 de Janeiro, ainda antes de a equipa liderada por Paulo Macedo tomar posse – que não acontecerá antes do dia 10 de Janeiro. Este impasse, que pode abrir um problema na liderança do banco, acontece devido às férias de Natal e Ano Novo que atrasaram o processo de avaliação da nova administração, noticia o Negócios.
A constituição da nova equipa da CGD foi enviada para o BCE a 19 de Dezembro, mas pelos motivos referidos anteriormente o Governo terá que avançar com uma solução transitória entre o período de saída de António Domingues, a 31 de Dezembro, e o de entrada na nova administração, depois do dia 10 do próximo mês.
Se por um lado tece acusações ao Governo – com quem disse não ter saído “zangado” –, por outro António Domingues reconhece o esforço dos funcionários do banco, destacando o “empenho” e “profissionalismo” dos mesmos naquela que diz ter sido uma “extraordinária experiência”.
“Quero felicitá-los pelo trabalho realizado e pelos resultados alcançados. Manter a confiança dos clientes e realizar a maior parte dos objectivos definidos num período particularmente difícil”, escreveu Domingues na carta de despedida.
A administração de António Domingues tomou posse na Caixa Geral de Depósitos em Agosto, mas a partir desse momento levantou-se uma polémica em torno dos salários, da entrega das declarações de rendimentos e sobre a eventualidade de ter tido informação privilegiada sobre a CGD quando participou, como convidado, em três reuniões com a Comissão Europeia para debater a recapitalização do banco. António Domingues apresentou a demissão do cargo no final de Novembro.