Emigração portuguesa manteve em 2015 o pico atingido em 2013
Com a crise, o número de emigrantes aumentou muito a partir de 2010. O nível das 110 mil saídas mantém-se desde 2013, apesar de a economia estar a crescer há dois anos.
Ainda não há dados para 2016, mas os números recolhidos pelo Observatório da Emigração (OEm) relativos a 2015 apontam para uma estabilização dos elevados números de saídas de Portugal que nos últimos anos têm sido associados aos efeitos da crise.
Assim, apesar de 2014 ter sido o primeiro ano completo em que a economia não decresceu, a emigração manteve nesse ano e no seguinte, em que houve eleições e mudança do Governo (embora só no final do ano), níveis de cerca de 110 mil saídas.
“A emigração continua em níveis historicamente muito elevados e mais elevados do que aquilo que, para mim, seria previsível”, disse Rui Pena Pires, coordenador do OEm, professor e investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). À semelhança do que acontecera em 2013 e 2014, os níveis de 2015 “só têm paralelo com os movimentos populacionais dos anos 1960 e 1970”, refere a síntese do relatório.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, fez porém notar que o importante para perceber a ligação entre os efeitos da crise e as saídas de emigrantes será olhar os dados de 2016, por ser esse o ano em que se deram várias mudanças.
"Todos sabemos que há uma correlação muito forte entre a evolução da estrutura do emprego e evolução dos padrões da emigração", afirmou o ministro na apresentação dos dados, nesta quinta-feira, em Lisboa. "E portanto, vamos ter de olhar com muito cuidado para os resultados não de 2015 mas de 2016, porque em 2016 nós temos consistentemente aumento da população activa, aumento do volume de emprego e redução da taxa de desemprego. Veremos se isto tem ou não efeito do ponto de vista da redução da emigração."
Só então será possível falar "sobre a estrutura do emprego e a qualidade do emprego no país de origem, neste caso, Portugal", concluiu Augusto Santos Silva.
O documento é da responsabilidade dos investigadores do CIES, mas publicado pelo Governo, que financia o observatório através de um protocolo – que foi suspenso pelo Governo liderado por Pedro Passos Coelho, dias depois das eleições de Outubro de 2015, mas que acabou por ser retomado pelo actual executivo. Os dados diferem dos publicados no fim do ano passado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que apontavam em 2014 para 85 mil emigrantes temporários e mais de 49 mil permanentes.
Esses números do INE são calculados através de um inquérito a pessoas e famílias em Portugal, deixando de fora as pessoas que efectivamente emigraram, estando por isso abaixo da realidade, apontou Rui Pena Pires na conferência de imprensa no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Os dados do relatório apresentado aos jornalistas esta quinta-feira e disponível no Portal das Comunidades Portuguesas são calculados pelo OEm a partir das entradas de portugueses nos principais países de destino, e retratam uma emigração permanente e não temporária.
Reino Unido é principal destino
Em 2010, os valores estavam fixados nas 70 mil saídas e, nos anos seguintes, aumentaram atingindo o pico em 2013. Nesse ano, o Reino Unido tornou-se o principal país de destino da emigração portuguesa, o que também se manteve em 2015.
Para o Reino Unido emigraram 32,3 mil portugueses no ano passado, ou seja, mais do que os 30,5 mil de 2014. Também houve um aumento do número das saídas para Angola (foram 6,7 mil), uma evolução "surpreendente", segundo Rui Pena Pires, pelos efeitos na economia angolana da crise dos preços do petróleo. A emigração aumentou também para Espanha mas, neste caso, pelo segundo ano consecutivo. E fora da União Europeia, os principais destinos foram Moçambique (4 mil em 2014) e Brasil (1,3 mil).
França, Suíça e Alemanha mantêm-se, por esta ordem, como principais destinos dos fluxos, e a França continua a ser o país onde vivem mais portugueses fora de Portugal, quando se trata não de fluxos mas de número acumulado de pessoas que emigraram ao longo do tempo.
No universo dos emigrantes, a maioria é população activa. Não existem "dados muito seguros sobre as profissões", disse Rui Pena Pires. Mas há dados que permitem afirmar que a emigração portuguesa corresponde ao padrão da emigração de outros países, como referido pela OCDE, ao verificar-se “um desfasamento” entre as qualificações obtidas e as exigidas nos trabalhos conseguidos nos países de destino. “Tem crescido mais a percentagem de portugueses emigrados com qualificações superiores do que a percentagem de portugueses em profissões que exigem essas qualificações”, concluiu.