Morreu José Pracana, um distinto amador do fado
Fadista, guitarrista, coleccionador e divulgador do fado, José Pracana morreu esta madrugada em S. Miguel, nos Açores, onde nasceu. Tinha 70 anos.
O guitarrista açoriano José Pracana, que era também fadista amador, morreu esta madrugada na sua residência em S. Miguel, a mesma ilha onde nasceu em 18 de Março de 1946. Nos últimos três anos lutava com um cancro na garganta, tendo sido sujeito a várias operações nos Estados Unidos. Ainda assim, apesar de debilitado, terá morrido sem sofrimento e manteve até ao fim uma total lucidez. O advogado Carlos Melo Bento, seu amigo, disse à agência Lusa: “Antes do Natal estive com ele em sua casa e mantivemos uma conversa absolutamente fascinante”; era “uma pessoa muito interessada, culta e atenta”. À Lusa, Carlos Melo Bento lamentou que o país tenha perdido um homem com uma “enorme cultura sobre o fado”.
Na biografia que lhe dedicou o Portal do Fado, José Pracana é apontado como alguém que se iniciou no fado como amador, em 1964, e quis manter esse estatuto ao longo da vida. Em 2005, aliás, foi na categoria de Fado Amador que recebeu o Prémio Amália Rodrigues. Gravou vários discos como cantor (Lenda das rosas e Um fadista já cansado, dois fados que registou, podem ser vistos no YouTube, em gravações que fez para a RTP) e como guitarrista, acompanhou as vozes de Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Alcindo Carvalho, Carlos Guedes de Amorim, Carlos Zel, João Braga, João Ferreira-Rosa, João Sabrosa, Manuel de Almeida, Maria do Rosário Bettencourt, Orlando Duarte, Teresa Tarouca ou Vicente da Câmara, entre outros. Com eles ou como fadista, actuou em Portugal e noutros países europeus (Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Dinamarca, Hungria,) mas também nas Américas (Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina, Venezuela, México), na África do Sul, no Zaire, em Israel, em Macau e na Tailândia.
Como coleccionador e divulgador do fado, colaborou em diversas edições e programas, desde o ambicioso Um Século de Fado (livros, CD e vídeos) para o Ediclube (1999) até à organização, para a EMI/Valentim de Carvalho, da remasterização digital de exemplares de 78 rpm para as várias edições, em disco, da colecção Biografias do Fado (de 1994 a 1998) a partir dos estúdios da Abbey Road, em Inglaterra. Para a RTP, idealizou as séries Vamos aos Fados (1976) Silêncio que se vai contar o Fado (1992, a convite da RTP Açores) e a mais recente Trovas Antigas, Saudade Louca (esta como co-autor, com Carlos do Carmo, Rui Vieira Nery e Sara Pereira).
Entre 1969 e 1972, José Pracana dirigiu o bar Arreda em Cascais, que abandonou para integrar os quadros da TAP. Em 2007 deu início, no Museu do Fado, a um ciclo consagrado às memórias do fado e da guitarra portuguesa e onde, segundo o Portal do Fado, prestou homenagem ao tributo artístico de Armando Augusto Freire, Alfredo Marceneiro, José António Sabrosa e Carlos Ramos.
O funeral de José Pracana está marcado para terça-feira, seguindo para jazigo de família no cemitério de S. Joaquim, em Ponta Delgada, Açores.