Netanyahu chama embaixadores de países que votaram contra colonatos
Estados Unidos "conspiraram" com os palestinianos para aprovar resolução no Conselho de Segurança que condena Israel.
O primeiro-ministro israelita chamou a Telavive os embaixadores de dez países representados no Conselho de Segurança, para os repreender pela aprovação de uma resolução que exige a Israel o fim da construção de colonatos em territórios palestinianos ocupados. Isso foi possível na sexta-feira porque, pela primeira vez os Estados Unidos abstiveram-se, permitindo que o documento passasse. Benjamin Netanyahu acusa a Administração Obama de ter “conspirado” os palestinianos para isso acontecesse.
“De acordo com as nossas informações, não temos dúvidas de que a Administração Obama a iniciou [a resolução que veio a ser aprovada], apoiou-a, coordenou a elaboração do texto e exigiu que fosse aprovada”, afirmou Netanyahu em declarações públicas após a reunião semanal do conselho de ministros, neste domingo. "Como disse ao secretário de Estado John Kerry, amigos não levam amigos para o Conselho de Segurança", afirmou o primeiro-ministro israelita.
Daniel Shapiro, o embaixador dos EUA em Israel, vai encontrar-se ainda este domingo com Netanyhau, embora não tenha sido um dos convocados. Dez dos 14 países que votaram a favor da resolução têm embaixadas em Israel, e foram chamados ao Ministério dos Negócios Estrangeiros: China, Egipto, Espanha, França, Japão, Nova Zelândia, Reino Unido, Rússia, Ucrânia e Uruguai. O 15º, os EUA, abstiveram-se.
Israel não mantém quaisquer relações diplomáticas com a Malásia nem com a Venezuela, dois dos quatro países, juntamente com a Nova Zelândia e o Senegal, que acabaram por apresentar a proposta de resolução, depois de o Egipto, que a tinha apresentado inicialmente, ter desistido – por pressão do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump.
A resolução 2334 diz que os colonatos israelitas na Cisjordânia e Jerusalém Oriental “não têm validade legal” e constituem “uma violação flagrante da lei internacional”, e constituem um sério obstáculo a conseguir uma solução de dois Estados (Israel e Palestina) que permita fazer a paz com os palestinianos.
Netanyahu disse que Israel não só não iria obedecer à resolução, como apelou imediatamente ao Presidente eleito Trump para o ajudar a “cancelar” a decisão do Conselho de Segurança. No sábado, anunciou ainda que Israel ia “rever” as suas contribuições para o orçamento das Nações Unidas, mas que tinha já decidido que deixaria de dar dinheiro a quatro instituições, que considera que “que são especialmente hostis a Israel”.
Ministros ainda mais extremistas do seu Governo, como Naftali Bennett, líder do partido ultranacionalista Casa Judaica, afirmou que Israel devia reavaliar a sua abordagem aos acordos de Oslo de 1994, que traça o plano de dois Estados, e em vez disso impor a sua soberania nos territórios que capturou após a guerra de 1967. E acelerar a construção de colonatos.
Estas posições radicais e de ameaça – mesmo face aos Estados Unidos, que continuam a ser o escudo protector de Israel – marcam o final de uma relação entre Benjamin Netanyahu e Barack Obama que foi conflituosa desde o início. “Idealista e talvez confiante demais, Obama chegou à Casa Branca certo de que iria ser o Presidente que resolveria a disputa de décadas entre israelitas e palestinianos. Mas Netanyahu viu um ingénuo que não compreendeu a ameaça existencial para Israel e que exigia mais dos seus amigos do que dos inimigos”, resumiu o jornalista do New York Times Peter Baker.
As posições de Netanyahu, no entanto, não fazem o pleno em Israel. “Ele está errado e engano-nos sobre quanto 50 anos de ocupação pesam sobre Israel. Uma maioria sólida dos países que votaram a favor da resolução no Conselho de Segurança não são anti-Israel ou anti-semitas. A mensagem da votação é simples: são os colonatos, estúpido”, escreve o analista Barak Ravid no jornal de esquerda Há’aretz. “Não é apenas Obama. A resolução mostra mais uma vez quão sólido e claro é o consenso internacional contra os colonatos. O Governo de direita do Reino Unido votou na resolução, sublinhou. Tal como os governos de direita da Espanha e da Rússia, da Nova Zelândia, a China.