Balanço lusófono de 2016: por uma “placa linguística de povos de língua portuguesa”

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa bem precisa de um renovado empenho e impulso do Brasil.

O ano de 2016 foi claramente um ano de aceleração da história. Com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia e, sobretudo, a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos da América, todas as previsões para 2017 parecem arriscadas, tais os possíveis reajustes geopolíticos que se podem, neste momento, equacionar, sendo que o Médio Oriente continua a ser a zona mais problemática a nível global. E não se antecipa como poderá deixar de sê-lo, a menos que seja a própria comunidade muçulmana moderada a conter as suas franjas mais extremistas, o que não tem, de todo, sucedido. Muito pelo contrário.

Face a toda essa turbulência, o espaço lusófono parece continuar na sua modorra. Ainda assim, adivinham-se algumas mudanças significativas nalguns países, inclusivamente em dois dos mais importantes: Angola e Brasil. No primeiro, José Eduardo dos Santos anunciou finalmente a sua saída da Presidência do país, o que, por si só, ajudará a desanuviar a situação política. No Brasil, é fácil prever que a situação política só se irá clarificar com novas eleições presidenciais. Enquanto a presente situação política se mantiver, o Brasil continuará por inteiro centrado nos seus problemas internos, sem disponibilidade mental para se preocupar grandemente com o futuro da CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que bem precisa de um renovado empenho e impulso do Brasil.

Nos dos seus muitos textos sobre este assunto, falou, o luso-brasileiro Agostinho da Silva, da “placa linguística de povos de língua portuguesa — semelhante às placas que constituem o pla­neta e que jogam entre si”. Num tempo em que as várias placas geopolíticas estão em clara e audível turbulência, custa reconhecer que a “placa linguística de povos de língua portuguesa” não é ainda sequer uma real placa, apenas o sonho disso. Se fosse já uma real placa, poderia contribuir, de forma significativa, para a rearrumação geopolítica do mundo. Não o sendo ainda, resta-lhe aproveitar o ano de 2017 para cimentar a sua coesão interna. Para que, no final do próximo ano, possamos já dizer, pelo menos, que essa “placa linguística de povos de língua portuguesa” existe. Isso já seria muito, ainda que não o suficiente.

 

 

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