Falta leveza, é apenas uma mastodôntica formalidade

Mise en scène indiferente e recheada de clichés “épicos”, galeria de personagens insossas, intriga mastigada: Rogue One.

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Há pelo menos uma cena com Jimmy Smits, numa das incontáveis personagens secundárias que a “saga” já coleccionou e que aparecem ou desaparecem por critérios misteriosos, em que íamos jurar que ele ostenta um sorriso esquisito e pouco consonante com a gravidade do diálogo que tem para dizer.

Podia ser o punctum (vide Roland Barthes) deste Rogue One, e o sinal escondido e involuntário de uma crise de fé: alguém, neste desconsolo de filme, acredita com um bocadinho de convicção, e para além do profissionalismo, naquilo que está a fazer? Ou pondo a coisa de outra maneira: alguém aqui é capaz de trazer aos não-devotos (esses, porque os fiéis não costumam dizer mal da missa) um bocadinho de entusiasmo perante mais uma celebração do evangelho de Star Wars?

Dificilmente se imagina tanto, e não é Gareth Edwards, realizador do último Godzilla (e dotado de uma subtileza de Godzilla), na sua mise en scène indiferente e recheada de clichés “épicos”, nem a galeria de personagens insossas, nem a intriga mastigada e repetitiva, nem a ressurreição de Peter Cushing por artes digitais, ainda menos a massacrante banda musical a martelar todos os instantes sem dar descanso (perfeita ilustração da “sopa” segundo o léxico straubiano) que vai mudar isso. Falta panache, imaginação, leveza, gozo, é apenas uma grande e mastodôntica formalidade.

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