De Lisboa, sem perdão

No PSD de Lisboa, os que são irreverentes, que não se conformam e acreditam em soluções diferentes, ou se exilam ou correm o risco de serem perseguidos, anulados, excluídos e até prejudicados.

Recentemente os social-democratas de Lisboa foram confrontados com a decisão do PSD poder apoiar a candidatura de Assunção Cristas à Câmara Municipal de Lisboa (CML).

Esta estratégia menoriza e desvaloriza o PSD em Lisboa e, por consequência, menoriza e desvaloriza o PSD a nível nacional. Ninguém compreenderá que o maior partido português e o que tem mais assentos parlamentares não tenha a capacidade de, entre os seus, encontrar um candidato à principal autarquia do país.

Não é aceitável, sendo até contranatura, que um partido como o PSD, interclassista, de base social-democrata e historicamente com forte implantação autárquica, representando uma base eleitoral em Lisboa no mínimo de 32%, desvalorize a candidatura à capital do país ao ponto de a entregar a um partido, que em Lisboa, representa 6% do eleitorado. Os lisboetas nunca perdoarão ao PSD, se não apresentar um candidato próprio, potencialmente vencedor e digno da capital.

Nunca o PSD teve tão forte hipótese de ganhar a CML a um candidato socialista, por sinal do Porto, que chegou a Lisboa apenas em 2013 e que tem como marca da sua gestão o aumento dos impostos municipais, a transformação de Lisboa num estaleiro, o caos na mobilidade e a desorientação geral.

No entanto o PSD, desvalorizado, tem estado a “cozinhar”, num qualquer gabinete entre Cascais e o Largo do Caldas, a hipótese de apoiar Assunção Cristas, fragilizando e menorizando o partido.

No passado dia 15, reuniram-se mais de 1200 social-democratas num jantar solidário de Natal. Ali foi lançado o apelo a Pedro Passos Coelho para se candidatar à CML. Elevou-se a fasquia para que ficasse claro que a grande maioria dos lisboetas e militantes do PSD não estão dispostos a aceitar a subalternização a uma candidatura do CDS.

Ora o que naquele jantar sucedeu foi uma reação das estruturas e de sociais-democratas simpatizantes. Mas, acima de tudo, foi a necessidade de fazer ver ao status quo que os lisboetas não concordam com esta hipótese e discordam da estratégia distrital que tem vindo a ser seguida.

Quem hoje coordena o processo autárquico no distrito de Lisboa são os principais responsáveis pela fragilização do PSD nos concelhos de Lisboa, Oeiras e Sintra que foram, noutros tempos, autarquias conquistadas pelo PSD. Hoje, o PSD representa 20% das Câmaras Municipais do distrito quando já representou 50%.

O objetivo da estratégia da fragilização é a manutenção do centro da decisão política em Cascais, nas mãos de uma minoria que tem como fundamento a aposta na derrota dos demais para poder vencer e perpetuar-se no poder.

Temos disso mesmo um exemplo recente. Quando se avançou com o nome de Pedro Santana Lopes para a CML, o status quo, já com a perspetiva de apoio a Cristas, sabotou completamente essa hipótese claramente vencedora. Tudo fizeram, em surdina e pelos corredores, para que não fosse para a frente o nome do atual Provedor da Santa Casa e um dos maiores ativos do PSD.

Veja-se ainda o que sucede desde 2007, altura em que o eleitorado do PSD em Lisboa, se dividiu entre Fernando Negrão e Carmona Rodrigues. Desde então, nunca mais o PSD ganhou a CML e foram, a partir daí, alimentadas divisões internas em Lisboa, como defendia Maquiavel na famosa arte da minoria que condiciona a maioria, dividindo para reinar.

Para vencer Lisboa é preciso um PSD unido e é necessário fazer regressar do exílio muitos social-democratas que o atual satus quo de Lisboa hostiliza pela sua liberdade, irreverência e por acreditar em soluções diferentes.

Refiro-me a nomes como Nuno Morais Sarmento, Pedro Santana Lopes, Ângelo Correia, Manuela Ferreira Leite, Fernando Seara, Graça Carvalho, Pedro Lynce, entre outros, afastando simultaneamente uma regeneração necessária de militantes.

Hoje, no PSD de Lisboa, os que são irreverentes, que não se conformam e acreditam em soluções diferentes, ou se exilam ou correm o risco de serem perseguidos, anulados, excluídos e até prejudicados.

Nos tempos de afastamento do eleitorado da decisão política e dos partidos toda a ação política que não seja de proximidade está condenada ao fracasso. Quando vemos o PSD “vender” a sua identidade em troco de projetos e agendas paralelas, caminha-se para um afastamento irreversível do seu eleitorado.

A aposta do PSD para Lisboa só pode ser na vitória. Não conheço qualquer outro resultado positivo.

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