"Vice" da concelhia do PSD promete lutar contra apoio a Cristas em Lisboa
A hipótese de coligação, com o CDS à cabeça, está a dividir os sociais-democratas. Rodrigo Gonçalves, que lançou apelo a Passos para que fosse ele o candidato, diz que é "suicídio político".
O número dois da concelhia de Lisboa do PSD, Rodrigo Gonçalves, assegura que vai continuar a contestar o apoio do partido a Assunção Cristas nas autárquicas em Lisboa. É uma das vozes sociais-democratas que se assume contra uma coligação PSD/CDS numa altura em que muitos outros estão desiludidos com a opção do líder do partido. A orientação de Passos Coelho para que sejam iniciadas conversações com o CDS divide mesmo a cúpula. Já o CDS mostra abertura para acolher apoios. Mas pode vir a ser confrontado com a hipótese de uma aliança no Porto, o que implicava recuar na decisão de estar ao lado do independente Rui Moreira.
“Não vamos desistir. [Apoiar o CDS] É suicídio político. Eu pensava que um jantar com 1220 pessoas seria um sinal suficientemente claro para a direcção”, diz ao PÚBLICO Rodrigo Gonçalves, vice-presidente da concelhia liderada por Mauro Xavier. “Compete ao presidente do PSD arranjar um candidato dentro do partido”, acrescenta, assumindo que Passos seria o único capaz de fazer desistir Cristas da corrida, oferecendo-lhe eventualmente o lugar de candidata à Assembleia Municipal, em caso de coligação.
O dirigente local está preocupado com as eleições do próximo ano. “Não vamos ter candidato em Lisboa, não temos no Porto, nem em Coimbra, nem em Faro. Não me venham depois dizer que ganhámos Aguiar da Beira”, diz Rodrigo Gonçalves para concluir: “Ou o PSD tem um candidato próprio, ou vamos ter em Lisboa o princípio do fim”.
Dois dias depois do jantar em Lisboa no qual sugeriu que Passos Coelho devia encabeçar a candidatura do partido à capital, o social-democrata explica que a iniciativa foi “uma reacção das estruturas àquilo que se estava a preparar em surdina e que é hoje uma evidência: o definhar da estratégia de o PSD ter um candidato próprio”.
Assumindo-se como um “homem das bases” que sabe o que elas pensam, o dirigente entende que essa estratégia é errada e que “vai menorizar o PSD e ter consequências” a nível nacional. “Este não é o caminho. Não estamos dispostos a continuar a ver o PSD a ser fragilizado em Lisboa. Precisamos de alguém que faça regressar do ‘exílio’ alguns sociais-democratas como Nuno Morais Sarmento, Pedro Santana Lopes, Manuela Ferreira Leite ou Marques Mendes.”
No próprio jantar, o líder da distrital de Lisboa, Miguel Pinto Luz, contrariou o dirigente da concelhia e reiterou que Passos Coelho é candidato, sim, mas a primeiro-ministro. Um dos sinais de que o PSD Lisboa está muito dividido. Mas não só. A hipótese de coligação com o CDS em Lisboa está a gerar muito desconforto no partido. Há ainda quem acredite que as negociações não cheguem a bom porto e que o PSD possa ainda vir a escolher uma figura, de preferência um independente, para cabeça de lista à câmara.
Apesar de o caso de Lisboa estar a contribuir para o clima de desalento no PSD em torno das autárquicas, há dirigentes que colocam um travão a leituras exclusivamente nacionais dos resultados. “Se corre mal ao Passos, também corre mal às distritais”, observa um social-democrata.
João Gonçalves Pereira, líder da distrital do CDS de Lisboa, confirma a disponibilidade do partido para uma aliança. “A disponibilidade de hoje é a mesma de há cinco meses quando dissemos que era uma candidatura aberta a outros partidos”, afirmou ao PÚBLICO o dirigente, referindo que Assunção Cristas está concentrada em ouvir pessoas e que mantém a sua agenda.
No CDS, há quem se interrogue como é que fica a líder do partido perante o resultado das autárquicas. Se, com o apoio do PSD, vier a conquistar a câmara terá de conciliar o cargo com o papel de candidata a primeira-ministra. Ou pode mesmo vir a ter de optar. Caso venha a perder, os centristas podem exigir-lhe consequências. Até porque historicamente Krus Abecassis ganhou sempre a câmara, com o apoio dos sociais-democratas.
A aproximação do PSD ao CDS em Lisboa pode fazer surgir a hipótese de replicar o acordo no Porto em que os centristas apoiariam o candidato do PSD que será o independente Álvaro Almeida. Só que a líder do CDS já prometeu, no congresso em que foi eleita, estar ao lado de Rui Moreira, repetindo o apoio de 2013. Um recuo só poderia acontecer por fortes motivos, argumentam os centristas.
A tensão no PSD de Lisboa promete continuar, já que as negociações entre os dois partidos – abrangendo câmara, assembleia municipal e juntas de freguesia – ainda devem demorar algumas semanas. Até porque o limite máximo dos sociais-democratas é Março de 2017.