Chaplin, o subversivo
80 anos passados, não perdeu nada do seu poder um dos mais belos filmes de todos os tempos: Tempos Modernos.
Diríamos que é um dos títulos fundamentais de Charles Chaplin se os títulos de Charles Chaplin não fossem todos fundamentais. Mas dentro desse superlativo contexto Tempos Modernos é um filme especialmente significativo, como um fecho de ciclo (é o último filme com o boneco de Charlot) e passagem para outro (as repercussões políticas de Tempos Modernos seriam amplificadas no seu projecto seguinte, O Grande Ditador, talvez o mais corajoso filme de todos os tempos). Significativo, também, do feroz humanismo de Chaplin, que em plena Grande Depressão assinava aqui um manifesto contra a faceta desumanizante da industrialização, e contra a redução dos homens a meros elos de ligação no meio da grande engrenagem capitalista.
Sim, é contraditório: o entretenimento de massa, produto da industrialização, usado como crítica das suas origens; e um dos homens mais ricos do mundo a criticar o capitalismo e a pôr-se do lado dos mais humildes operários. Mas nessa contradição (que seria usada contra Chaplin, mais tarde, durante os anos do mccarthyismo) está também a grandeza deste homem, capaz de mesclar o belo e o feio, e encontrar a graça de um bailado na mais atroz submissão do humano aos imperativos da linha de produção industrial (alguns dos mais célebres gags de Chaplin estão aqui, na sua luta contra pregos, porcas, máquinas e roldanas).
Subversão em grande escala, que hoje, 80 anos passados, não perdeu nada do seu poder — se é que não ganhou. Em todo o caso, um dos maiores e mais belos filmes de todos os tempos.