Ferreira Leite: "Nunca interferi em nada na Caixa"

A ministra das Finanças entre 2002 e 2004 diz que durante a sua tutela não houve sinais de problemas, o banco tinha resultados "pujantes" e não havia nada de "inovador" na relação entre o Governo e a administração da Caixa.

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Manuela Ferreira Leite foi chamada à CPI da CGD DANIEL ROCHA

Manuela Ferreira Leite foi à comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos dizer que, durante o seu mandato, a gestão do banco público foi "prudente" e que nunca foi avisada de problemas na CGD e também nunca interferiu na gestão do banco. Aos deputados, a ex-ministra das Finanças, entre 2002 e 2004, garantiu: "Nunca interferi em nada da administração da Caixa que não fosse da minha competência." Manuela assegurou também que o banco público, durante o seu mandato, teve cerca de 700 milhões de euros de lucro por ano.

A ex-governante está a ser ouvida pelos deputados desde as 15h, por ter sido ministra durante dois anos com a tutela da Caixa. E garantiu que durante esse período nada de anormal se passou no banco público: "Não tive qualquer aviso por parte da Inspecção-Geral das Finanças ou pela Direcção-Geral do Tesouro e Finanças. Não creio que tenha havido nada disso enquanto lá estive", disse. Quando questionada pelo deputado do PCP, Miguel Tiago, sobre se o ministro deveria ter actuado, no caso de ter existido o alerta, Ferreira Leite apenas comentou: "Admito que tivesse de actuar, posteriormente ao regulador que é o Banco de Portugal. O regulador é a primeira linha de intervenção e não o ministro das Finanças."

Tanto o PCP como o PS insistiram na questão da relação do Governo com a adminisração da Caixa. Ferreira Leite respondeu que, falando de há cerca de 13/15 anos, não era necessária mais informação. "Não fui inovadora, fui muito conservadora no critério de ligação entre o governo e a CGD – o ministro das Finanças tutela a CGD, mas evidentemente não é administrador da CGD", disse aos deputados, acrescentando que apenas tinha intervindo em "aspectos de natureza estratégica". Garantiu ainda a ministra que "nunca" discutiu com a gestão da Caixa qualquer crédito. “A administração nunca sugeriu nenhuma operação de crédito nem eu sugeri nenhuma.”

Em resposta ao deputado do PCP, Miguel Tiago, que perguntou sobre a situação do banco durante aqueles anos, Ferreira Leite garantiu que a Caixa "estava acima de qualquer suspeita e, além disso, tinha numa situação económica e financeira absolutamente sólida". Mais tarde, já em resposta ao PSD, Manuela Ferreira Leite contou que o banco público durante aqueles anos teve cerca de 700 milhões de euros de lucro por ano e que revertiam para o Estado "50%". "Tentei aumentar para 60%, 70%", referiu. 

Aliás, foi essa tentativa de aumentar os lucros para o Estado que levou a um episódio de alguma "pressão" com a administração da Caixa. Contou a ex-ministra que tentou, mas não foi além de uma tentativa de obter uma maior participação. "Não ameaça – nem ele [administrador da Caixa] se subordinou a esse pedido. Ficámos nos limites das nossas competências mas não os excedemos", assegurou.

Já sobre negócios que tenham resultado em imparidades futuras Ferreira Leite defendeu que não era possível fazer essa análise, até porque se está a fazer uma análise de há 13, 15 anos, mas que todos os créditos concedidos "tinham um certo enquadramento quando eram concedidos. Eram considerados como importantes para a economia". Garantiu ainda que as provisões do banco público para fazer face a essas possibilidades de imparidades "não eram de 100% mas mais de 100%. Eram quase consideradas exageradas". Perante esta postura da administração a ex-ministra assegurou que "pode haver contas seguras, mas mais do que aquelas é impossível", defendeu.

Sobre questões estratégicas em que tenha analisado com a CGD a antiga governante falou da situação em Espanha e também do peso da parte dos seguros no banco público. Disse a ex-ministra que esse peso já era de cerca de 1/3 e que como tal tentou uma alteração do modelo da Caixa que passasse por uma separação do banco comercial e da parte dos seguros e internacional. "Ainda foi discutido em conselho de ministros, mas poucos dias depois soube-se que o nosso primeiro-ministro [Durão Barroso] ia sair. Não chegou a ter andamento no nosso mandato. Quanto à questão de Espanha, vinha do tempo de Rui Vilar em que houve uma aquisição de bancos, ou melhor, de banquinhos. A intenção foi a de comprar um novo banco onde fossem absorvidos." Contudo, essa compra falhou por duas vezes. "Esse projecto não foi concretizado e estes eram dois pontos estratégicos em termos de evolução da Caixa."

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