Líder mais líder
Benfica vence derby e recupera algum conforto na liderança da I Liga, que comanda agora com quatro pontos de avanço sobre o FC Porto e cinco relativamente ao Sporting.
Estamos ainda a longos meses do final do campeonato e, por isso, não deixou de ser inesperado que os jogadores do Benfica tivessem celebrado o triunfo sobre o Sporting no derby de Lisboa (2-1) num grande abraço colectivo no centro do relvado, como quem conquista uma final. É verdade que os “encarnados” recuperam algum conforto na liderança da classificação, agora com quatro pontos de avanço sobre o FC Porto (que goleou o Feirense por 0-4) e cinco relativamente aos “leões”, que terminam a jornada relegados para o terceiro lugar. Mas a manifestação dos jogadores entende-se sobretudo tendo em conta aquilo por que tinham passado nos minutos anteriores: tendo tentado defender a vantagem de 2-0, o Benfica viu o Sporting crescer e intensificar a pressão. Bas Dost reduziu a diferença no marcador e o assédio “leonino” não abrandou até ao apito final. Só então a ansiedade deu lugar à euforia na Luz.
Os minutos finais pareceram durar anos para as repletas bancadas da Luz, que faziam silêncio e quase sustinham a respiração a cada ataque “leonino”. Ederson foi um autêntico herói, dizendo sempre presente, mesmo quando o resto da defesa parecia à deriva, e dando um contributo decisivo para os “encarnados” obterem o segundo triunfo consecutivo sobre os rivais de Alvalade, nove meses depois daquela que foi a única vitória “encarnada” nos quatro derbies da temporada passada.
Desta vez, o duelo lisboeta apresentou uma novidade, porque chegou com Rui Vitória à frente. A partida começou com Benfica e Sporting a saberem já que o FC Porto goleara o Feirense e passara a somar 28 pontos. Os “encarnados”, vindos de uma derrota perante o Nápoles que não impediu a qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, tiveram em Rafa a grande novidade no “onze”, titular pela primeira vez desde Setembro. O português entrou para o lugar de Cervi, enquanto Jonas, convocado após uma paragem de cerca de três meses, não chegou a ser opção e viu o jogo na bancada. No Sporting, afastado das competições europeias após ter sido último no Grupo F da Champions, Jorge Jesus deixou de lado as experiências de Varsóvia e regressou à fórmula habitual. Adrien Silva e Gelson Martins, que estiveram em dúvida, alinharam de início.
O Sporting teve maior volume atacante mas o Benfica teve uma eficácia assassina e é isso que dá os pontos na classificação. Apesar de terem tido sinal mais desde o início, os “leões” viram-se em desvantagem no marcador quando Salvio bateu Rui Patrício (24’): o argentino correspondeu ao passe de Rafa, embora a jogada tivesse começado com mão de Pizzi na área “encarnada”. O golo tranquilizou sobremaneira o Benfica, que passou a conseguir ditar o ritmo e construir jogadas articuladas. O Sporting, que ameaçara por Gelson Martins, Bas Dost, Bryan Ruiz e Bruno César, passou por dificuldades para libertar-se.
A equipa de Jorge Jesus parece ter ficado com razões de queixa num lance em que a bola desviou no braço de Nélson Semedo após um canto – na sequência, William Carvalho não conseguiu emendar e atirou por cima. Pouco antes do intervalo Jiménez surgiu isolado, após um ressalto que apanhou a defesa “leonina” desprevenida, mas Rui Patrício brilhou com uma grande defesa.
Com um início frenético, a segunda parte prometeu mais espectáculo. Coates fez um mau atraso e deixou Gonçalo Guedes cara a cara com Rui Patrício, mas o guarda-redes antecipou-se e segurou a bola. Na resposta, Joel Campbell (que entrou para o lugar de Bruno César) assistiu Bas Dost, mas o remate do holandês acertou em cheio no poste. A bola tornou a viajar para o extremo oposto do campo e só parou no fundo da baliza: Salvio lançou Nélson Semedo, que assistiu Raúl Jiménez para o 2-0. O mexicano antecipou-se a João Pereira e marcou de cabeça.
O jogo começou a mudar aí: Rui Vitória não resistiu a tentar defender a vantagem de dois golos, reforçando o meio-campo com Danilo e abdicando de Salvio. Mas a decisão teve o efeito contrário ao pretendido, porque o Sporting cresceu e assumiu o controlo das operações. Bas Dost esteve perto do golo aos 61’ mas Ederson fez uma grande intervenção. O holandês não desperdiçou poucos minutos depois, quando, completamente sozinho, correspondeu de cabeça ao cruzamento de Campbell na esquerda.
A pressão aumentava e a defesa “encarnada” tremia por todos os lados. Cada corte, cada alívio, eram celebrados efusivamente pelas bancadas, suspensas até ao segundo final pela incerteza que se abatia sobre a Luz. O líder resistiu. E saiu do derby mais líder.