A arte do humor

O livro de Ricardo Araújo Pereira (RAP) sobre escrita humorística é muito bom e tem um título muito bom e muito comprido - A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar. Mas não é comprido. Diz muita coisa e não tem palha. As citações são tão divertidas e numerosas que o livro é também uma muito boa antologia de humor. Mas é muito curto.

Espero bem que seja o primeiro volume e que deixe de desculpar-se como “uma espécie de manual de escrita humorística” e se torne no tratado que já é. Apesar de breve, está cheio de observações originais, exemplos sugestivos e boas ideias, oferecidas com generosidade e explicadas com clareza.

É um livro delicioso que não se aguenta interromper. Lê-se gulosamente até ao fim embora se pare muitas vezes para pensar e fazer apontamentos. É um livro inspirador. Está cheio de momentos “é isso mesmo!” Ensina muitos truques, alguns dos quais antiquíssimos mas desconhecidos.

É corajoso. Eu nunca teria a coragem de escrever um livro sobre o humor porque quase todas as tentativas que conheço acabaram com menos graça do que começaram. Bergson e Freud sairam-se mal. Zizek tem um sentido de humor grosseiro e paradoxal e, de vez em quando, faz-nos rir. Mas não sabe escrever com humor nem sabe usar o humor para escrever. Mark Twain sabia e RAP sabe. É por isso que ambos se saem bem: não só sabem do que falam como querem saber mais e gostam de pensar no que fazem.

É um livro pensativo e profundo que há-de tornar-se um clássico. Só é pena não ser comprido.

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