Merkel quer proibir véu integral "até onde for legalmente possível"
A governante alemã adoptou esta terça-feira um discurso mais conservador, não deixando de criticar a indiferença aos conflitos na Síria e de elogiar o papel da Alemanha na política de portas abertas aos refugiados.
A chanceler alemã Angela Merkel afirmou esta terça-feira a intenção de proibir “até onde for legalmente possível” o uso do véu que cobre toda a face. “O véu integral não é apropriado aqui, devia ser proibido até onde for legalmente possível. Não nos pertence”, considerou a líder alemã. As suas declarações foram recebidas pelo auditório com aplausos, descreve a CNN.
Após o discurso durante o congresso do partido e depois de já ter anunciado a sua candidatura para um quarto mandato enquanto chanceler, a líder da União Democrata-Cristã (CDU) foi reeleita esta terça-feira com 89,5% dos votos. Apesar de estar quase nos 90%, esta é a votação mais baixa de Merkel desde que é chanceler, nota o Guardian.
Sem detalhar se se trata da burqa, que cobre inteiramente todo o corpo, incluindo os olhos, que ficam tapados por uma rede, ou de um niqab, um véu que cobre todo o rosto, deixando uma pequena abertura para os olhos, Angela Merkel segue assim o exemplo de França, que em 2011 se tornou o primeiro país a proibir o véu integral em espaços públicos.
Thomas de Maiziere, ministro do Interior, também já se tinha manifestado sobre o assunto, ainda em Agosto, apelando a que o uso do véu fosse banido dos locais públicos. “Não se encaixa na nossa sociedade, na nossa comunicação, na nossa coesão social… É por isso que pedimos para ver a vossa cara”, justificou.
"Concordamos sobre a necessidade de introdução de medidas legais que provem que mostrar o rosto é importante para a nossa sociedade: quando se conduz um automóvel, em repartições públicas, nas escolas, nas universidades, nos serviços públicos, nos tribunais", sublinhou em entrevista ao canal de televisão alemão ZDF.
Mais recentemente, a televisão alemã Deutsche Welle mencionava que num documento com o título Orientação para tempos difíceis – para uma Alemanha e uma Europa de sucesso, a CDU deveria apostar numa matriz mais conservadora para tentar convencer os eleitores descontentes com as opções políticas do partido. Merkel e o seu partido têm perdido popularidade devido à sua política de “portas abertas” aos refugiados: Durante 2015, a Alemanha recebeu quase um milhão de refugiados. Agora, estas afirmações surgem como um sinal para a ala mais conservadora do partido e são uma mudança no discurso de Merkel.
Em Setembro deste ano, a chanceler defendia que liberdade religiosa implica "poder fazer-se expressão pública da mesma". As declarações durante a Conferência Interparlamentar sobre Liberdade Religiosa sublinhavam a excepção de aplicar estas restrições a determinados âmbitos, como em casos de justiça, por exemplo.
Ainda assim, apesar de ter alterado o seu discurso, Merkel continuou a defender a opção de Berlim em abrir as portas aos refugiados e criticou a indiferença à guerra da Síria. "Para ser honesta, se um acordo comercial com os EUA pode trazer centenas de milhares de manifestantes para as ruas, mas os bombardeamentos bárbaros nas em Alepo não incentivam quaisquer protestos públicos, então alguma coisa está errada com os nossos critérios políticos", criticou.