Uma série para perceber a fórmula do carisma de Hitler

Hitler estreia-se esta segunda-feira no Canal História e analisa em seis episódios o poder da linguagem corporal e da retórica no percurso do líder nazi.

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Cortesia do Canal História/DR

A capacidade oratória de Adolf Hitler nunca foi segredo, mas nem toda a gente sabe que a aparente espontaneidade dos seus discursos e gestos era fruto de um treino consciente e premeditado com o seu amigo e fotógrafo Heinrich Hoffman. A linguagem verbal e não-verbal do Führer foi a grande cúmplice da sua ascensão ao poder e é agora objecto de análise em Hitler, a série documental que se estreia esta segunda-feira, às 22h, no Canal História.

São seis episódios que vão permitir aos espectadores percorrer a vida de um dos maiores ditadores da História contemporânea. No primeiro capítulo assistimos aos primeiros anos da vida de Hitler na pacata vila austríaca de Linz, pautados pela tragédia da morte da sua mãe e pela sua nomeação como líder do partido nazi. A partir daí, começa a delinear-se o seu percurso político e, em 1930 – já no segundo episódio – o Partido Nazi passa a ser o segundo maior partido do Reichstag e Hitler começa a gerir uma máquina de propaganda bem oleada e a estender o seu autoritarismo a toda a Alemanha. O terceiro episódio assinala o pico do seu regime com a corrida ao armamento e o início da violência contra os judeus em 1938.

Ao quarto capítulo, a Europa fica à mercê do líder nazi, cujas tropas avançam sem dó nem piedade e conquistam cidade atrás de cidade, eliminando todos os indícios de oposição. O ano de 1941 é o ponto de viragem retratado no quinto episódio, em que se sucedem várias derrotas e retiradas, com a entrada dos Estados Unidos no conflito, após o ataque a Pearl Harbour. O último episódio marca a queda do Führer a partir do momento em que começa a ficar isolado de toda a Europa, mas até ao fim rodeado de um conjunto fiel de discípulos como Himmler ou Goebbels.

É uma viagem no tempo que mostra que Adolf Hitler não era um manipulador nato; antes preparava meticulosamente todos os seus discursos e aparências em público porque tinha consciência do efeito que estas poderiam ter. Em 2014, foram divulgadas algumas fotografias tiradas por Heinrich Hoffman, contratado precisamente para registar os gestos e poses de Hitler, para que este pudesse revê-los e reproduzi-los mais tarde. As imagens, captadas em 1925, deveriam ter sido destruídas como instruído pelo Führer, mas Hoffman desobedeceu, vindo a publicá-las na sua autobiografia de 1955, Hitler Was My Friend.

Hitler alegadamente treinava os seus gestos enquanto ouvia gravações dos seus discursos. O seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, anotou no seu diário que o Führer escrevia os seus próprios discursos e chegava a editá-los mais de cinco vezes. Há fotografias do líder nazi a apontar para uma audiência imaginária, a levantar o punho cerrado e com as palmas das mãos abertas enquanto franze o rosto, zangado. Há também poses mais dramáticas, como se estivesse a convocar um poder divino nos céus.

O historiador britânico Roger Moorhouse refere que “Hitler era um político moderno no sentido em que se preocupava com a imagem que passava e com a forma como era visto pelo público”. Já Bruce Loebs, professor na Idaho State University, sublinha que “as pessoas estavam dispostas a segui-lo porque parecia ter as respostas certas em tempos de grande caos económico”.

Na sua autobiografia de 1925, Mein Kampf  A Minha Luta, Adolf Hitler escreveu: “Eu sei que a confiança dos homens é mais conquistada pela palavra falada do que pela palavra escrita, que qualquer movimento à face da Terra deve o seu crescimento a bons oradores mais do que a bons escritores.” Foram mais de cinco mil discursos que levaram à fé inabalável do povo alemão no líder nazi e, se sabemos que o rasto de destruição que deixou na História não é perdoável, a verdade é que a forma como cultivou a retórica pode ajudar a compreender como o fez.

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