O desafio da união à esquerda
Ao congresso do PCP vieram 64 delegações de organizações, movimentos e partidos de índole comunista de muitos países. O cubano Juan Valdes emocionou-se com a homenagem a Fidel.
Juan Valdes ainda está “profundamente triste” com a morte de Fidel Castro e impressionado com a gigantesca homenagem que presenciou na praça principal de Havana há três dias, e é com essa desculpa que foge a apreciar a solução que em Portugal permite ao PS governar com o apoio parlamentar dos comunistas, ecologistas e bloquistas. O funcionário do departamento de relações internacionais do comité central do Partido Comunista de Cuba (PCC) prefere puxar do telemóvel para mostrar um vídeo da cerimónia que contou com a presença de líderes de vários países.
Quando Jerónimo de Sousa falou da tristeza pela morte de Fidel e a sala de 1200 delegados e cerca de 500 convidados se levantou em bloco para aplaudir longamente e gritar “Cuba vencerá!” de punho direito erguido, Juan Valdes emocionou-se. “Senti o carinho, que não é só dos comunistas, mas de todos os portugueses, representada nesta sala. Fidel e Raúl são de origem galega, e Fidel foi acarinhado quando cá esteve. Senti-me tocado; senti-me família dos comunistas portugueses.”
O assunto é repescado através de Fidel. Um dos legados políticos do carismático líder cubano é o “incentivo ao estabelecimento de alianças”, forma como, aliás, nasceu o PCC, nos anos 60. E hoje a união ainda faz a força? “Fará sempre”, admite Juan Valdes, citando os líderes latino-americanos que marcaram presença em Havana. “A direita foca-se no capital, enquanto a esquerda é mais intelectual, de opinião mais diversificada. E isso impede-a de se unir mais”, argumenta o antigo diplomata, que foi embaixador de Cuba na Rússia entre 2008 e 2012, mas também jornalista. Por isso em Portugal há acordos individuais dos vários partidos e não uma grande frente, formal, de esquerda. “É o eterno problema da esquerda: conseguir a união é o seu grande desafio”, diz o militante comunista desde 1983.