PCP exige ao Governo projecto que não descaracterize estação de S. Bento, no Porto

O projecto, apresentado a 5 de Outubro, previa a instalação no edifício de um hostel, um mercado Time Out, uma loja "Starbucks", um café, 15 restaurantes, quatro bares e uma galeria de arte.

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Rita Franca

O PCP exigiu esta quarta-feira ao Governo que esclareça o que pretende para a estação de S. Bento, no Porto, esperando que "arrepie caminho" de "um qualquer projecto que descaracterize" o centenário edifício, classificado como imóvel de interesse público.

"Vamos exigir ao Governo que esclareça e arrepie caminho de um qualquer projecto que descaracterize a estação", afirmou esta terça-feira o deputado comunista na Assembleia da República Jorge Machado.

Numa acção em defesa da estação de S. Bento, que se realizou hoje ao fim da manhã em frente ao edifício, a CDU pretendeu alertar a população para o projecto apresentado a 5 de Outubro, que prevê a instalação no edifício de um hostel, um mercado "Time Out", uma loja "Starbucks", um café, 15 restaurantes, quatro bares e uma galeria de arte, a concluir até finais de 2017.

Para a CDU, a estação "não pode ser transformada num centro comercial" e "não pode ser alvo de um processo de descaracterização".

O PCP já questionou no início do mês o ministério do Planeamento sobre o projecto de requalificação daquela emblemática estação ferroviária, pedindo também explicações sobre o facto de os órgãos autárquicos do Porto não terem sido envolvidos no processo, mas ainda não obteve resposta, disse Jorge Machado. Para o deputado comunista, em função da resposta o partido vai avaliar a intervenção que se segue, mas, independentemente disso, "este património não pode ser desvirtuado". "É um erro, é uma estupidez transformar esta estação em algo que ela não é e isso irá prejudicar, não só as populações, a economia local, mas também o Porto enquanto cidade atracção de turistas que é", disse, porque o que torna única S. Bento "não é ser um centro comercial, é ter uma dinâmica muito própria que deve ser salvaguardada", designadamente sendo uma estação "importantíssima do ponto de vista da mobilidade" e sendo "património arquitectónico e patrimonial muito interessante, que tem que ser salvaguardado e protegido". O projecto anunciado, "que visa a sua requalificação mas ao mesmo tempo o seu desvirtuamento, não é para nós aceitável", frisou, acrescentando que a Infra-estruturas de Portugal (IP) "terá que necessariamente começar o processo de novo". O deputado comunista defendeu que a IP "recomece o processo, ouvindo as populações e órgãos autárquicos" sobre um projecto para S. Bento, que deverá ser "consensual, pacífico e que proteja o património".

Também presente na acção de rua, o vereador da CDU na Câmara do Porto, Pedro Carvalho, voltou a criticar como "o centenário da estação foi transformado num anúncio formal da transformação da estação em alguma coisa que nem as populações nem o poder autárquico conheciam". Pelo que foi sendo noticiado pelos jornais, disse, "o que entendemos é que o presidente da Câmara (Rui Moreira) já teria algum conhecimento ou pelo menos algum aviso de algo neste projecto, e isso é importante clarificar, esclarecer que tipo de informação teve".

Para o comunista, "o que não é admissível é que se venha aqui fazer uma intervenção e que a IP se prepara para fazer essa intervenção quando existiam projectos na Câmara nesse domínio, nomeadamente na rua da Madeira". "A CDU chegou a apresentar proposta para a requalificação da rua, o próprio executivo entendeu que seria possível levar a proposta mais além, e a verdade é que ficou todo em águas de bacalhau e agora a IP acaba por avançar com um projecto alternativo, que nada tem a ver com os objectivos que a cidade tinha para a zona", vincou.

Pedro Carvalho e o deputado Jorge Machado referiram que o partido não está contra a reabilitação da estação, apenas contra uma transformação que desvirtua o edifício.