Na visita dos reis, entre dois países com laços antigos, os olhos estão no futuro e na Europa

Medina elencou o que podem e devem Portugal e Espanha fazer: promover o investimento, o comércio, os fluxos turísticos; reforçar o ensino das línguas, promover a troca e a fruição cultural.

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Quando os reis chegaram já estava o aparato de transeuntes montado há mais de meia hora Nuno Ferreira Santos
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Felipe e Leticia acenaram à população e turistas Nuno Ferreira Santos
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Na Praça do Município, Felipe VI e Fernando Medina passaram revista às tropas Nuno Ferreira Santos
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Os discursos seguiram-se no interior do edifício dos Paços do Concelho Nuno Ferreira Santos

Ainda faltavam pelo menos 30 minutos para os reis de Espanha chegarem à Praça do Município, em frente à Câmara Municipal de Lisboa, onde seriam recebidos pelo autarca Fernando Medina, e já o aparato estava montado. Guarda de honra, turistas portugueses e estrangeiros, telemóveis e máquinas fotográficas, jornalistas. A espera foi interrompida pelo hino que anunciou a chegada da realeza. A seguir, houve cumprimentos oficiais, o protocolo cumprido. Mas foi lá dentro, na Câmara Municipal, que Medina desafiou os reis de Espanha a pensarem no que os une e a usarem isso para a “reconstrução do projecto europeu”.

“A nossa acção conjunta tem hoje um espaço fundamental na Europa e na reconstrução do projecto europeu”, disse o autarca, já a meio do discurso. "Apesar das diferenças, [Portugal e Espanha] enfrentam hoje desafios comuns no quadro da evolução da Europa. As forças de desintegração, de reforço dos nacionalismos, de alargamento das assimetrias norte-sul e de redução da solidariedade são contrárias aos interesses nacionais de ambos os países”, continuou Fernando Medina.

Por isso, apelou: “Podemos e devemos caminhar em conjunto na reconstrução do projecto europeu através de uma agenda reformista que responda às consequências da crise financeira, às assimetrias geradas pela moeda única, ao imperativo civilizacional de salvar os refugiados.” No fundo, prosseguiu, “no regresso da Europa ao espaço onde todos prosseguem com êxito as suas ambições de desenvolvimento, coesão, justiça e liberdade”.

Por último, “e mais importante, enfrentamos hoje no mundo um debate fundamental: entre a abertura e o fechamento, entre a tolerância e o ostracismo, entre o cosmopolitismo e o provincianismo”. Também neste ponto, defendeu o presidente, Portugal e Espanha “têm um papel central neste debate. Porque somos sociedades abertas e tolerantes e porque, melhor do que outros, entendemos o valor da abertura, da tolerância e do cosmopolitismo.”

O próprio Felipe VI, na sua intervenção, também falou desse cosmopolitismo, referindo-se a Lisboa como “ponto de encontro de vários continentes e culturas”. Assinalou a “amizade indestrutível” que une Portugal e Espanha, falou numa Lisboa que se converteu num destino de eleição, de uma cidade “hospitaleira”. Para a contínua transformação de Lisboa, continuou, contribuirá “sem dúvida o importante acordo firmado a 24 de Outubro com o Banco Europeu de Investimento” (apoio financeiro para recuperação urbana).

Elogios e iniciativas

De resto, houve muitas trocas de elogios e destaque para iniciativas que se avizinham. Medina dirigiu ao rei uma “palavra particular de reconhecimento e pela forma como tem marcado o início do seu reinado. Como referencial de estabilidade política e como promotor da imagem da Espanha. Pelo cuidado e afecto que tem colocado na relação com Portugal” – recordou que é a segunda visita que faz em menos de um ano.

Mas “sobretudo”, continuou Medina, “pelo seu papel na motivação para o futuro, na recuperação da esperança e na mobilização das energias mais dinâmicas da comunidade espanhola e internacional. Nestes tempos tão exigentes o seu papel tem sido, e será cada vez mais no futuro, um papel fundamental.”

O futuro foi uma constante na intervenção de Medina, apesar de também ter feito referências ao passado que une os dois países (assim como o rei). “Hoje, a amizade entre os dois povos é uma realidade da nossa identidade. Mas relembrar a nossa história e reforçar os laços de afecto e amizade que nos unem só ganham verdadeiro sentido se estiverem colocados ao serviço da construção conjunta do futuro”, afirmou Fernando Medina.

Mas não se ficou por palavras vagas e elencou “coisas que podemos e devemos fazer entre nós, nas relações bilaterais”: promover o investimento, o comércio e os fluxos turísticos; reforçar o ensino das línguas, promover a troca e a fruição cultural.

Medina lembrou ainda que Lisboa vai acolher a ARCO e que a cidade será também no próximo ano Capital Ibero-Americana da Cultura: “Durante todo o ano de 2017, seremos a casa para mais de 400 artistas e 80 instituições, oriundos de 16 países do mundo Ibero-Americano, distribuídos pelas principais áreas e agentes da cultura: do teatro à dança, da literatura às bibliotecas, passando pela pintura e pela escultura ou por todas as artes performativas.”

No domínio das iniciativas conjuntas, fez ainda questão de  referir um projecto “de especial simbolismo para os dois países: a constituição da Rede Mundial das Cidades Magalhãnicas” que “engloba duas cidades portuguesas (Lisboa e Sabrosa), várias cidades espanholas (de Sevilha a Granadilla de Abona, passando por Santa Cruz de Tenerife e Getaria) e muitas outras espalhadas pelo mundo”.

De resto, protocolo e festa cumpridos. Os reis receberam a chave de honra da cidade, Felipe VI assinou o livro de honra, recebeu trabalhos de crianças e ainda ouviu, bem como Letizia, Cuca Roseta cantar com aquela voz que Deus lhe deu, ou deu a algumas: “Foi deus/Que deu voz ao vento/Luz ao firmamento/E deu o azul às ondas do mar foi deus/Que me pôs no peito/ Um rosário de penas/Que vou desfiando/ E choro a cantar/Fez poeta o rouxinol/Pôs no campo o alecrim/Deu as flores à primavera/Ai!, e deu-me esta voz a mim.”

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