Rebelião síria "sofreu a sua pior derrota desde 2012"
Crescente Vermelho revela que mais de quatro mil pessoas fugiram para zonas controladas pelo Governo. Exército conquistou à oposição mais de um terço do território que controlava.
Em apenas três dias a rebelião perdeu mais de um terço do território que controlava no Leste de Alepo, cedendo bairro após bairro ao Exército sírio e aos seus aliados – senhores de uma ofensiva que pode fazer cair muito em breve a última grande praça-forte da oposição ao Presidente Bashar al-Assad. Na confusão dos combates, milhares de civis fogem em todas as direcções possíveis em busca de salvação.
Rios de tinta foram gastos sobre o que representaria para Assad vencer a batalha de Alepo – uma possibilidade que ganhou força desde Julho, quando as as suas forças fecharam o cerco à metade Leste da cidade – e quão fatal seria para os rebeldes perder a última grande cidade em seu poder – sem ela “a oposição mostraria que é incapaz de obter um grande sucesso no plano militar”, deixando de poder apresentar-se como “uma alternativa a Damasco”, explicou à AFP o analista Fabrice Balanche.
Um cenário que não se materializou ainda, mas os avanços dos últimos dias “mostram que a maré em Alepo está claramente a favor do regime”, sublinha Jonathan Marcus, correspondente diplomático da BBC.
A lista de zonas conquistadas pelo Exército sírio não pára de crescer: Massaken Hanano no sábado; Jabal Badro, no domingo; Sakhour, o primeiro cair nesta segunda-feira, numa sucessão de derrotas que levou os rebeldes a abandonar praticamente todos os bairros que controlavam no nordeste da cidade. “Este é o seu maior revés desde 2012”, disse à AFP o director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, grupo que conta com uma rede de activistas na Síria, calculando em quase 40% o território cedido às forças de Assad.
O objectivo, explicou a última edição do jornal governamental Al-Watan, é isolar as várias áreas ainda controladas pela oposição “e capturá-las umas após as outras”. “Os homens armados deverão render-se ou aceitar a reconciliação nacional nos termos fixados pelo Estado sírio.”
Sem qualquer esboço de reacção dos países árabes e ocidentais que os apoiaram – entre eles os Estados Unidos, onde o tempo é já de espera pela chegada à Casa Branca de Donald Trump –, os combatentes não se dão por vencidos, mas não escondem que a situação é desesperada. “Estamos a combater o Irão, a Rússia e milícias vindas de todo o mundo”, disse à AFP Yasser Youssef, dirigente do Nouredin al-Zinki, um dos principais grupos armados de Alepo. “O que aconteceu nos últimos dias é o maior feito estratégico do Exército sírio e dos seus aliados”, lamentou-se outro combatente ouvido pela Reuters.
Acossadas pelos ataques aéreos, pela aproximação dos combates e pelo medo da fome, milhares de pessoas estão a deixar as suas casas. Cerca de quatro mil, pelas contas do Crescente Vermelho Sírio, fugiram em direcção às zonas tomadas pelo Exército, tendo sido levadas de autocarro para o bairro de Jibril, no Oeste da cidade, onde desde domingo nasce um improvisado campo de deslocados. A guerrilha curda do YPG, que aproveitou também as movimentações militares para ocupar zonas até aqui em poder dos rebeldes, diz ter recebido entre seis a dez mil pessoas em Sheik Maqsoud, o enclave que controla no norte da cidade. Muhammad Sandeh, membro da administração criada pela oposição no Leste de Alepo, contou à Reuters que milhares de residentes estão a deslocar-se mais para sul, “procurando áreas que possam estar mais longe da linha da frente”.
Entre eles está Bana Alabed, a menina síria de sete anos que há meses descrevia a vida sob cerco na conta de Twitter criada pela mãe. “Esta noite não temos casa, foi bombardeada”, lê-se numa mensagem publicada domingo, com a foto de Bana rodeada de pó. Na última, a mãe, Fatemah, revela que a família “está em fuga e que há muitas pessoas a morrer nos intensos bombardeamentos”. “Estamos a lutar pela nossa vida. Ainda cá estamos.”