Quase um milhão de pessoas em Seul contra a Presidente Park
Há cinco semanas que milhares de pessoas pedem a demissão da líder sul-coreana por causa do escândalo de corrupção que envolve uma amiga de infância.
Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Seul este sábado, pelo quinto fim-de-semana consecutivo, em protesto contra a Presidente sul-coreana, Park Geun-hye, implicada num escândalo de corrupção e abuso de poder.
Os organizadores da manifestação dizem que se concentraram 800 mil pessoas no centro da capital sul-coreana ao início da noite e esperavam alcançar o milhão de manifestantes nas horas seguintes, apesar da neve e das temperaturas próximas de zero graus. As acções de protesto noutros pontos do país juntaram 500 mil pessoas, diz a BBC.
A praça de Gwanghwamun, em Seul, transformou-se num mar de luzes, à medida que milhares de pessoas chegavam com velas nas mãos, descreve o Korea Herald. Os manifestantes levaram cartazes em que pediam a demissão de Park, máscaras e bandeiras. “Estou tão orgulhosa de estar a elevar a minha voz contra a Presidente. Elegemos Park para nos representar, não para abusar do seu poder”, disse ao Herald Kang Geum-sook, de 50 anos, que foi ao protesto com a filha.
Estas são as maiores manifestações no país desde os protestos populares do final dos anos 1980 contra a junta militar que governava a Coreia do Sul. Autocarros de várias partes do país começaram a chegar a Seul durante sábado. A manifestação juntou vários sectores da sociedade, desde famílias inteiras, agricultores, monges budistas e estudantes universitários. Até ao momento, os protestos têm sido pacíficos, com a generalidade dos manifestantes a gritarem “Sem violência!” de cada vez que algum grupo tenta provocar desacatos, diz o Herald.
Apesar de os protestos serem motivados pelo escândalo de corrupção que envolve a Presidente, os manifestantes têm aproveitado para expor outros factores de descontentamento. Associações de agricultores quiseram, por exemplo, mostrar o seu desagrado contra a descida do preço do arroz marchando com os seus tractores e espalhando grãos de arroz nas avenidas da capital, conta o correspondente da BBC, Stephen Evans.
Há cinco semanas que os protestos em Seul têm subido de tom, tornando a posição de Park cada vez mais insustentável. Em causa está o caso que envolve uma amiga de longa data da Presidente acusada de utilizar a sua proximidade com Park para exigir dinheiro a várias empresas.
O escândalo rebentou quando uma televisão revelou que Choi Soon-sil, amiga de infância de Park, teve acesso a informações confidenciais e até dava sugestões acerca dos discursos da Presidente. Várias investigações vieram entretanto revelar que Choi terá usado a proximidade de Park para obter fundos junto de grandes empresas sul-coreanas que eram canalizados através de fundações que lhe pertenciam. Choi está detida e sob investigação do Ministério Público. Para além de Choi foram também detidos dois membros do gabinete presidencial.
Park – cuja popularidade está nos 5% – pediu desculpas publicamente em duas ocasiões e tem tentado mostrar-se como uma vítima da sua amiga, mas o eleitorado pede-lhe responsabilidades. A Presidente não pode ser julgada, mas os investigadores já revelaram a intenção de a interrogar e acusam-na de cumplicidade com Choi – Park mostrou-se disponível para colaborar, mas não há notícias de que tenha sido ouvida.
Apesar da imunidade, é possível que o Parlamento a tente afastar através de um processo de destituição. Mesmo que sobreviva ao escândalo, nos restantes 15 meses que lhe restam na Casa Azul – a sede da presidência – os seus poderes reais serão fortemente limitados. Park já falhou, por exemplo, a cimeira que juntou vários países do Pacífico em Lima há duas semanas.