O seguro do Governo chama-se Marcelo
Um ano depois, Marcelo sabe qual é o elemento que mais falta a esta inovadora maioria: a confiança dos portugueses, sobretudo a confiança dos empresários e investidores.
Faltam ainda dois dias para que esta maioria comemore um ano no poder, mas não foi preciso esperar pelo dia para que Marcelo Rebelo de Sousa lhe tenha cantado os parabéns.
Marcelo, o Presidente, não fez por menos. Numa conferência organizada para discutir o futuro, decidiu olhar para trás. E assinalou, uma a uma, as chaves do sucesso de António Costa. Celebrou a paz sindical, assinalou a estabilidade política, vincou o cumprimento das regras europeias – assim como o regresso do crescimento. E passou ainda pela atenção dada ao sistema financeiro.
Assinale apenas isto: o Presidente fez isto sublinhando, a cada passo, a importância que ele próprio teve durante estes meses de convivência.
A nós, que conhecemos Marcelo e que nos habituámos aos seus comentários semanais (num outro papel), cabe-nos também assinalar o momento que escolheu para soprar a vela, a primeira vela deste Governo. Fê-lo antes do primeiro-ministro, dias depois do PSD se agitar com os números da economia ou com a disponibilidade de um potencial candidato à liderança. Fê-lo antes da aprovação do Orçamento, no dia em que Passos Coelho tinha marcado um ataque cerrado à estratégia orçamental de Mário Centeno.
Parte dois: Marcelo fê-lo num momento chave para as esquerdas, quando o INE dá conta de uma aceleração, que ou é consolidado agora, ou pode bem perder-se para sempre (pelo menos para quem tem que garantir argumentos para justificar este compromisso).
Um ano depois, Marcelo sabe qual é o elemento que mais falta a esta inovadora maioria: a confiança dos portugueses, sobretudo a confiança dos empresários e investidores. Há um ano essa confiança afundou e só a custo, lentamente, tem recuperado. Marcelo sabe também que, sem confiança nesta maioria, no seu compromisso com a estabilidade política e financeira, cá dentro e na Europa, não haverá investimento, não haverá esperança e, claro, não se consolidará o crescimento.
Marcelo sabe, claro, mais do que isso: que ele próprio, Presidente da República, é aos olhos dos portugueses o selo de garantia desta maioria. E que a palavra dele é, para todos, factor importante, mesmo que não suficiente, para que ela possa dar certo.
Marcelo sabe, por fim, que qualquer balanco que possamos fazer sobre esta maioria, sobre as virtudes que destacou ou as fragilidades que omitiu, é necessariamente transitório. Mais ainda face à total imprevisibilidade do que nos rodeia.
Nós, que conhecemos Marcelo, devemos reconhecer o seu sentido de oportunidade: com o discurso de ontem, ajudou Costa e absorveu confiança e popularidade. E temos de tirar-lhe o chapéu: até aqui esta aliança foi um sucesso. Logo veremos se é de coração ou de conveniência.