Se a UE não se decidir, Erdogan ameaça levar a Turquia para a Organização de Xangai
Presidente turco diz que a adesão não pode ser uma "ideia fixa" turca. Deu a Bruxelas até ao fim do ano para definir o estado do processo.
O Presidente turco afirmou que o seu país não deve obstinar-se na tentativa de entrar na União Europeia e sugeriu que pode juntar-se à Organização de Cooperação de Xangai (OCS), aliando-se à Rússia e à China.
"A Turquia deve descontrair em relação à União Europeia e não tornar a questão uma ideia fixa", disse Recep Erdogan numa conversa com jornalistas do jornal Hurriyet quando ia a caminho do Uzbequistão.
Estas declarações, publicadas este domingo, surgem num momento em que as relações entre a Turquia e a UE estão no seu ponto mais crítico, depois de Bruxelas ter criticado o Governo de Ancara pelas demissões e prisões em massa após a tentativa falhada de golpe de Estado em 15 de Julho. O processo de adesão está, na prática, suspenso — mantém-se o acordo financeiro Bruxelas-Ancara para o impedimento da passagem de refugiados e imigrantes da Turquia para o território comunitário, mas a contrapartida exigida pelos turcos para abolição de vistos de entrada para os seus cidadãos não deverá acontecer em 2017, como chegou a ser veiculado.
"Alguns poderão criticar-me mas é a minha opinião. Pergunto-me, por exemplo, porque razão a Turquia não se junta à Organização de Xangai?", disse Erdogan.
A Organização de Cooperação de Xangai, fundada em 1996, é uma estrutura política, económica e militar criada pela China e pela Rússia, integrando ainda o Cazaquistão, a Quirgízia, o Tajiquistão e o Uzbequistão e a que, em 2015, se juntaram a Índia e o Paquistão. Não foi a primeira vez que o Presidente turco se referiu à possibilidade de entrada da Turquia neste grupo.
No início da semana passada, Erdogan disse que poderá realizar um referendo para perguntar aos turcos se querem mesmo juntar-se à União Europeia se Bruxelas não tomar uma decisão sobre o estado da adesão — que foi aberto em 1987 mas só começou a ser de facto negociado em 2005 — "até ao final do ano".
Na mesma altura, o Presidente turco disse que fará outra consulta popular para se decidir se o país passa a ser um regime presidencialista — um projecto antigo de Erdogan que exige mudanças constitucionais mas que foi travado pela perda da maioria absoluta no Parlamento do seu Partido da Justiça e Dezenvolvimento (islamo-conservador).