Dois anos de prisão para presidente do Sindicato de Jornalistas do Egipto
Três membros do Sindicato condenados por terem dado abrigo a dois repórteres críticos de uma decisão do Governo.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas egípcio e dois colaboradores foram condenados a dois anos de prisão por terem “abrigado” repórteres, dois “homens procurados pela justiça”.
Os jornalistas foram acusados depois de um raide da polícia à sede do Sindicato, no Cairo, quando lá se encontravam outros dois jornalistas procurados – o Governo proibira que os media noticiassem os casos de detidos em protestos durante o mês de Abril contra a transferência de duas ilhas no mar Vermelho para a Arábia Saudita e estes jornalistas continuaram a escrever sobre o tema.
Amro Badr e Mahmoud Saqqa, especialmente críticos da decisão de entregar as ilhas disputadas (uma decisão entretanto anulada pela Justiça, com o Governo à espera do resultado do recurso que interpôs) iniciaram em Maio uma concentração no interior do Sindicato. Em 75 anos de existência, nunca as forças de segurança tinham entrado no edifício, mas desta vez a polícia entrou e deteve os dois, acusando-os de envolvimento em “protestos ilegais contra o Estado” e de “usarem notícias falsa” para incitarem manifestantes “a confrontarem as forças policiais”.
Mesmo no Egipto actual, do Presidente Abdul Fattah al-Sissi, onde as manifestações foram ilegalizadas, as ONG têm cada vez mais dificuldades em funcionar e activistas, escritores, comediantes ou médicos são detidos sem nada terem feito, o raide ao Sindicato chocou – os sindicatos são considerados a salvo da política.
Quase todos os jornais, incluindo alguns próximos do poder, exigiram na altura a demissão do ministro do Interior, Magdy Abdel-Ghater, e o presidente do Sindicato, Yehya Kallache, denunciou um regime “em guerra contra o jornalismo”.
Para além de Kallache, o secretário-geral do Sindicato, Gamal Abdelrahim, e o chefe da sua comissão das liberdades, Khaled Elbalshy, foram interpelados no fim de Maio e postos rapidamente em liberdade. Mas o processo avançou e a condenação chegou este sábado. Se quiserem aguardar um eventual recurso em liberdade, os três terão de pagar uma caução de dez mil libras egípcias (580 euros).
O mais surreal neste processo incompreensível é que Saqqa e Badr, os jornalistas que estiveram na oridem do caso contras os responsáveis do Sindicato, foram libertados em Agosto e as acusações contra ambos foram entretanto abandonadas.