Investimento na Renault em Cacia só acelera a partir de 2018
Fábrica do distrito de Aveiro irá produzir uma nova geração de caixas de velocidade. Investimento de 100 milhões será repartido entre 2017 e 2019.
Maior volume de vendas e exportações, mais postos de trabalho e prolongamento da vida da unidade fabril: estes são os resultados prometidos pelo grupo Renault para a fábrica de Cacia, onde serão aplicados 100 milhões de euros para a produção de uma nova geração de caixas de velocidade. No entanto, o investimento, repartido por três anos, só vai acelerar a partir de 2018.
No ano que vem, segundo o director da fábrica, Juan Melgosa, o valor não atingirá os cinco milhões de euros, ou seja, ficará abaixo de 5% do total. Depois, em 2018 e 2019, surgirão então valores mais significativos, conforme o planeado. O ano de 2018 será também o ano em que, de acordo com o anúncio, começarão a sair de Cacia as primeiras caixas de velocidade de nova geração, que vão fornecer as fábricas da multinacional francesa espalhadas pelo mundo.
Sem revelar valores concretos, Juan Melgosa adiantou que “o compromisso” para este investimento passa por aumentar o volume de negócios da fábrica – em 2015, foi de quase 281 milhões de euros e, este ano, deverá chegar a um valor próximo dos 300 milhões de euros -, sendo que uma das grandes conquistas deste acordo passa por “assegurar a laboração da fábrica por vários anos”, sem especificar, e garantir a criação de 150 postos de trabalho – na prática, serão integrados nos quadros trabalhadores eventuais.
Um facto que também foi realçado por António Costa, no discurso que proferiu durante a sessão de apresentação do investimento. Para o primeiro-ministro, “foi fundamental” o acordo alcançado entre administração do fabricante francês e a comissão de trabalhadores, uma vez que “garante condições de estabilidade e segurança para quem quer investir, e também confiança e segurança para quem trabalha”.
Da parte do Governo fica a promessa, deixada por António Costa, “de continuar a desenvolver políticas públicas que favorecem o crescimento da economia”. Contudo, fica por saber se entre essas medidas está a reivindicação apresentada por Ribau Esteves, presidente da câmara de Aveiro: que o projecto da linha ferroviária Aveiro-Salamanca “deixe os gabinetes e os papéis e passe à operação, que é da maior importância para esta empresa, mas também para um conjunto de empresas exportadoras que estão nesta zona industrial”, alertou o edil.
Esta ligação é, no entender de Ribau Esteves, essencial para “retirar da rede rodoviária as muitas centenas de camiões que a Renault Cacia gera, entre os que chegam e partem desta unidade”, disse.
De acordo com os números apresentados, depois, numa breve sessão de perguntas e respostas, pelo director da fábrica de Cacia, o movimento diário de pesados nesta unidade industrial ascende a um total de 50 veículos – dos quais, 30 são de entrada de matérias-primas e 20 de saída com produto final.
A fábrica de Cacia produz caixas de velocidades e componentes para motores de veículos particulares e utilitários de diferentes modelos da gama Renault, Dacia, Nissan, Daimler e AvtoVaz, destinados 100% à exportação. Das suas linhas de maquinação e de montagem saem 20% do total de caixas produzidas anualmente em todas as fábricas do grupo Renault. Segundo destacou José-Vicente de los Mozos, do comité executivo do Grupo Renault, a produtividade e qualidade de Cacia (em 2015, foi distinguida como a melhor fábrica de caixa de velocidades do grupo, em todo o mundo) são a razão para este investimento de 100 milhões de euros na sua modernização.
No tempo do Renault 4
Foi em Setembro de 1981, “com parte da fábrica ainda em construção e com um efectivo de 251 trabalhadores”, que a unidade de Cacia da Renault iniciou a sua laboração, na altura a produzir “caixas de velocidades destinadas a veículos Renault 4 e Renault 5”. Estava, assim, concretizado um objectivo que já vinha sendo prosseguido desde 1977. Em Outubro desse ano o então ministro da Indústria, Nobre da Costa, assinou, em Paris com o presidente geral da Renault, Bernard Vernier-Palliez, um protocolo no qual a marca francesa se comprometia a participar na reestruturação e no desenvolvimento da indústria automóvel em Portugal. Cerca de dois anos e meio depois, em Fevereiro de 1980, era assinado em Lisboa o acordo entre a Renault e o governo português para a construção da fábrica de Cacia – a partir das instalações da antiga Fábrica de Automóveis Portugueses – FAP, e dos terrenos adjacentes.
Actualmente, a unidade industrial de Cacia emprega 1200 trabalhadores. De acordo com a empresa, nos últimos cinco anos foram investidos na unidade de Cacia “cerca de 65 milhões de euros” seja no desenvolvimento tecnológico seja na produção de novos componentes.
Em 2009, chegou a ser propalada a criação de uma nova fábrica de baterias para os veículos eléctricos Nissan-Renault nos terrenos contíguos a esta unidade de Cacia. O investimento, de 150 milhões, foi anunciado na presença do então primeiro-ministro, José Sócrates -, mas acabou por não se concretizar. A decisão de suspender a fábrica de baterias eléctricas foi justificada pela administração com base no facto de, “após análise detalhada do plano de negócios”, ter chegado “à conclusão que as quatro fábricas espalhadas por todo o mundo seriam suficientes para os objectivos”.