GEFAC celebra 50 anos de vida em Coimbra com Diálogos de Memória
Grupo de Etnografia da Academia de Coimbra comemora este sábado meio século de existência com um colóquio. À noite, há concerto: Diabo a Sete e Da Côr da Madeira.
Foi em 1966 que estudantes da Universidade de Coimbra fundaram o GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra). O objectivo era “recolher, analisar e interpretar as manifestações culturais, individuais e colectivas, das populações rurais nas suas diversas vertentes: cantares, música instrumental, danças, teatro, usos e costumes.”
Foi isso que fizeram nas décadas seguintes e, chegados aos 50 anos de vida, celebram a data com um colóquio intitulado Diálogos de Memória, este sábado, na Sala do Carvão da casa das Caldeiras, em Coimbra, das 10h às 18h30. Às 21h30, haverá um concerto, no Conservatório de Música de Coimbra, com Diabo a Sete e Da Côr da Madeira.
O colóquio faz parte da programação das XVI Jornadas de Cultura Popular, realizações bienais que, segundo o GEFAC, “têm proporcionado à cidade de Coimbra múltiplos momentos de reflexão sobre a cultura popular, quer através de colóquios e mesas-redondas, quer também pela realização de exposições, espectáculos de grupos portugueses e estrangeiros, manifestações de rua”, promovendo “o encontro de cada cidadão, não só com a sua própria cultura mas também com a cultura de outros povos.”
O colóquio começará pelas 10h, com Manuel Louzã Henriques na sessão de abertura, seguindo-se três painéis: “A Construção da Memória”, com Paula Godinho e Mariana Rei, moderado por Patrícia Matos; “O Registo da Memória”, com Luísa Tiago de Oliveira, Tiago Pereira, Ivan Dias e moderado por Luísa Ricardo; e “A Transmissão da Memória”, com Domingos Morais, Margarida Moura, Amadeu Magalhães e Armando Carvalhêda, cabendo neste último a moderação a Adérito Araújo. As celebrações dos 50 anos do GEFAC vão prolongar-se até ao próximo dia 3 de Dezembro.
Um dos participantes no colóquio, o etnomusicólogo Domingos Morais escreveu em Junho passado um texto a propósito deste cinquentenário (assinando-o como membro do Movimento Português de Intervenção Artística e Educação pela Arte): “O GEFAC é um dos alfobres que contribuíram para humanizar a Universidade. A cultura tradicional foi, pela sua acção esclarecida, dignificada em oposição ao folclorismo bacoco do Estado Novo e das pobres Federações normativas do que o Povo pode, deve ou não fazer. A Etnografia e Folclore de que se reclama nada têm a ver com o passado de ranchos protegidos pela FNAT e com fundamentalismos e autenticidades que apenas existem nas mentes perversas de quem não aceita a mudança sempre presente na cultura popular.” No entanto, dizia, "talvez seja o papel do GEFAC enquanto divulgador de conhecimento e práticas culturais, o que melhor caracteriza o seu contributo para a formação de várias gerações que se reconhecem na sua postura ética irrepreensível.”
Por fim, falava do futuro, antevendo-o no horizonte de um século: “O desafio para os próximos 50 anos é a diversificação das iniciativas, reafirmando a necessidade de vivenciar no corpo e na voz a cultura tradicional, através da dança, do teatro, da música e de todas as artes que dão sentido e enriquecem o quotidiano das comunidades. Resistindo, hoje como no passado, a todas as tentativas de domesticação e normalização do que é por natureza livre, imprevisível, revelador do que de melhor somos capazes quando nos regemos por princípios de solidariedade e aceitação da diversidade.”