Melhor saúde, ao virar de uma esquina em Lisboa
Iniciativa da Associação Conversa Amiga, os Quiosques da Saúde promovem sessões de rastreio, aconselhamento e acompanhamento a doentes para lhes facilitar o acesso a cuidados de saúde primários.
Por vezes, os hospitais e os centros de saúde ficam demasiado longe de quem precisa deles. E como até o sistema de transportes se pode revelar insuficiente para cobrir as longas distâncias, torna-se impossível a muitas pessoas – na sua maioria idosos – receberem os cuidados de que precisam. Para tentar ajudar quem tem dificuldade no acesso a esses cuidados, a Associação Conversa Amiga (ACA) criou os Quiosques da Saúde, consultórios de rua onde actuam médicos, enfermeiros e voluntários. Já existiam três – em São Domingos de Benfica, em Alcântara e em Pegões, no Montijo – e agora junta-se a estes o de Alvalade, que abre este sábado, 19 de novembro.
Joana Feliciano, da ACA, refere que, além de prestar informação, a equipa dos quiosques também conversa com os doentes. “Em muitos casos, esta é a parte mais importante, sobretudo para as pessoas idosas. Algumas delas têm aqui o seu motivo para sair de casa, conviver e cuidar da sua saúde e bem-estar”. Para além da “Conversa Terapêutica”, ainda há controlos e rastreios de tensão arterial, colesterol, glicémia e triglicerídeos. Quando são identificados problemas mais graves, os doentes são sempre reencaminhados para especialistas em hospitais.
Colin O’Brien é um dos muitos que se encaixam neste cenário. “Em Setembro de 2015, reparei num sinal estranho nas minhas costas, mas não pensei que fosse sério o suficiente para ir ao hospital, até porque não tenho cá nenhum médico”. O irlandês, que trabalha para uma startup tecnológica irlandesa sediada em Portugal, vive em Alcântara e reparou no Quiosque da ACA, ao qual se dirigiu para um check-up apenas por descargo de consciência.
“A enfermeira que me viu ficou preocupada com o sinal e disse-me logo para o ir examinar. Voei para a Irlanda e fui ao médico, e removeram-me o sinal, analisaram-no e descobriram que era um melanoma de estágio 3”. Depois de ser submetido a várias operações, encontra-se agora saudável, de volta a Lisboa e ciente de que o diagnóstico precoce da enfermeira do Quiosque foi essencial: “Antes da última operação, o meu cirurgião disse que se tivesse mantido o sinal mais uns meses, o resultado teria sido muito diferente, por isso devo o facto de ainda estar vivo à equipa da ACA”. E continua a ser presença assídua no quiosque de Alcântara, para manter a saúde em dia e a boa relação com quem o ajudou.
“Já chegámos a receber pessoas a quem os próprios médicos diziam que, se fosse mais fácil irem ao quiosque, por ser mais perto da casa delas que o centro de saúde, podiam continuar a ir lá para manterem os seus dados em dia, para depois eles os verem nas consultas”, referiu Joana Feliciano. Mas a responsável pela comunicação da ACA adverte: “Os quiosques são um complemento aos centros de saúde, mas não os substituem. Mas é mais fácil e rápido para quem cá vem, porque não tem de esperar para ser atendido”. E também os voluntários completam a actividade dos médicos e enfermeiros da ACA sem os substituírem: “São pessoas que já terminaram o curso e querem ter esta experiencia de acompanhar turnos, não vão logo para o terreno sozinhos. Mais tarde, podem ir para o terreno sozinhos se todos os critérios de seleção e requisitos se verificarem”, garante Joana Feliciano.
Curiosamente, e tal como a Colin, ir ao Quiosque já ajudou a própria Joana a detectar um problema a tempo de o resolver. “Uma destas manhãs, senti um certo desconforto na bexiga e fiz o teste Combur aqui no Quiosque, que avalia o nível do pH e da acidez da urina, e através dele a enfermeira viu que eu estava com valores muito elevados”. A enfermeira e uma médica reencaminharam Joana para as urgências de um hospital, onde lhe identificaram pedras nos rins e as trataram. Assim como Colin, Joana agradece o diagnóstico prematuro: “Se não tivesse ido ao quiosque logo quando me senti mal, não ia perceber tão cedo o que tinha e podia ter sido muito mais grave do que foi”.