Afinal Hayao Miyazaki já não se vai reformar

À sexta não foi de vez. Depois de em 2013 ter voltado a anunciar que ia retirar-se de cena, o mestre da animação japonesa voltou atrás e anunciou nova longa-metragem lá para 2019.

Hayao Miyazaki em Setembro de 2013, na conferência de imprensa em que anunciou uma vez mais que ia retirar-se
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Hayao Miyazaki em Setembro de 2013, na conferência de imprensa em que anunciou uma vez mais que ia retirar-se Yuya Shino/Reuters
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A Viagem de Chihiro valeu-lhe o Óscar e o Urso de Ouro em Berlim DR
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As Asas do Vento, de 2013, foi apresentada como a sua última longa-metragem DR

Para quem acompanha o mundo do cinema de animação, que tem em Hayao Miyazaki uma das referências maiores, a notícia de que o mestre japonês afinal já não se vai reformar é tudo menos estranha (se quisermos, até é tudo menos notícia).

É certo que há três anos o autor de filmes como O Castelo Andante ou Princesa Mononoke veio dizer que estava na hora de sair de cena, que se sentia cansado para continuar, mas também é certo que não era a primeira vez que o fazia (pelas contas de alguns blogues e publicações especializados em cinema de animação, assim como a revista Wired, era mesmo a sexta).

Recentemente, num programa da NHK, a televisão pública nipónica, Miyazaki deixou no ar a possibilidade quase certa de voltar para mais um projecto – um filme que, admite, se arrisca a deixar inacabado: “Ainda não disse à minha mulher. Mas quando o fizer terei consciência de que posso morrer a meio caminho.”

Estas declarações do realizador e autor japonês aclamado pelo público e pela crítica, hoje com 75 anos, foram feitas no documentário com o apropriado título The Man Who Is Not Done, em que uma equipa da NHK acompanha toda a produção de Kemushi no Boro (Boro the Caterpillar, ainda sem título em português), uma curta-metragem feita por encomenda para o museu do Estúdio Ghibli, em Tóquio, meca da animação japonesa (e também por isso mundial) que tem sido a sua segunda casa nos últimos 30 anos.

Esta curta, que conta, resume o próprio realizador, “a história de uma lagarta pequena e peluda, tão pequena que pode facilmente esmagar-se entre os dedos”, deverá estrear em 2017 e dar origem a uma longa, que será inteiramente feita com recurso a animação digital – uma novidade para Miyazaki, que durante toda a sua carreira desenhou em cima do estirador – e estará pronta em 2019/2020.

Ainda não há qualquer confirmação oficial do estúdio em relação à execução do projecto ou a uma eventual data de lançamento do filme.

“É melhor morrer enquanto o faço do que não o fazer de todo”, acrescentou Miyazaki, co-proprietário do Estúdio Ghibli, que fundou com outro realizador, Isao Takahata (O Conto da Princesa Kaguya), e os produtores veteranos Yasuyoshi Tokuma e Toshio Suzuki.

Foi precisamente Suzuki quem disse à revista Vanity Fair que Miyazaki tem vindo a travar uma batalha com a animação digital – a curta-metragem da lagarta já recorre a ela -, uma tecnologia que impõe drásticas mudanças a alguém que passou toda a sua (longa) carreira a desenhar à mão. “Miyazaki é daquelas pessoas que vai fazer filmes até morrer”, disse o produtor. “O Ghibli vai continuar desde que Miyazaki continue a fazer filmes.”

Esta longa-metragem que deverá estrear em sala quando o criador japonês de sorriso afável tiver 80 anos ou mais vai seguir-se a As Asas do Vento, uma história com a Segunda Guerra por cenário, que em 2013, numa conferência a que assistiram centenas de jornalistas, foi apresentado como o seu último filme.

Miyazaki, que nos habituou a histórias delicadas que pressupõem muitas vezes reflexões singulares sobre a relação homem-natureza, parece estar longe do fim que antecipa. O realizador com muitos prémios no currículo, incluindo o Urso de Ouro do Festival de Berlim (2002) e o Óscar para a Melhor Animação (2003), ambos com A Viagem de Chihiro, está já a trabalhar no guião e vai adiantando que a ideia original do novo filme tem mais de 20 anos. Se ele pôde esperar duas décadas para voltar a encontrar-se com uma lagarta, nós podemos esperar mais quatro ou cinco anos para voltarmos a marcar encontro com o seu cinema.

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