7:21 da manhã e os senhores das sondagens bem podem limpar as mãos à parede porque Donald Trump está a apenas quatro lugares de ser o nosso próximo patrão. Não porque para isso tenhamos votado (devíamos) mas porque as pessoas são todas estúpidas até prova em contrário, pois de outro modo não se explica como as vítimas do capitalismo, os desempregados, os precários, os reformados, os jovens, foram, eles próprios, votar num capitalista para Presidente dos Estados Unidos da América, a maior pistola do mundo, carregada e apontada à cabeça de todos nós. Depois não se queixem, com o Brexit foi o que se viu mais a economia do Reino Unido pelo cano abaixo.
Por isso a ansiedade antes de adormecer ontem à noite, como se fosse uma criança a ter de ir para a cama na noite de Natal, obrigada a dormir ao mesmo tempo que um senhor de barbas vem às escondidas para nos dar a prenda que tanto queremos. Mas nem o Donald Trump é um senhor de barbas como a manhã vem acordar para trazer uma prenda, sim, mas não a querida, não a desejada, antes a temida realidade de, pela primeira vez, termos um Presidente misógino, xenófobo, ditatorial, fascista, reflexo da ignorância que ele, e os seus, criaram ao longo de gerações e cujo resultado está hoje à vista. E sim, os batalhões de comentadores que de há não sei quantas semanas para cá vaticinam a derrota de Trump já devem estar todos aflitos à procura de justificar os seus salários. Mas isso são outras conversas.
Não sei o que me choca mais, se o facto de Trump ter ganho as eleições se o facto de, finalmente, ter acertado no resultado do vencedor. É que lá em casa o ingénuo sou eu, sempre a acreditar em milagres (como no Pai Natal), daí ter apostado no Trump por querer que o mesmo perdesse. Be careful what you wish for.
7:30 da manhã e o mundo, de olhos arregalados, pasma diante do 45° Presidente dos Estados Unidos da América, Donald John Trump, agora com 276 delegados eleitos. Estupefacto com a sua própria vitória, Donald Trump corre para o Trumpmobile e ordena ao motorista para seguir a toda a bisga para a Casa Branca. À chegada tem à sua espera uma mala, preta, com um grande botão vermelho, reluzente, no seu interior, o tal botão tão ansiado, o seu brinquedo, a sua prenda. Sozinho na sala oval, Donald nem consegue acreditar na sua sorte, toda a vida sonhara com aquele momento. Olha em redor para ter a certeza que não há ninguém, esboça um sorriso, toma fôlego e...