Os primeiros 100 dias de Trump: secar o pântano, apagar Obama
O republicano quer assinar uma série de medidas logo no primeiro dia, e Rand Paul fala em "apagar a presidência Obama" numa semana.
Donald Trump prometeu uma série de medidas logo no seu primeiro dia na Casa Branca que vão do comércio à imigração. Pontos fortes: reformar a política (o tema frequente da campanha, “drenar o pântano da corrupção em Washington”) e reverter uma série de medidas do seu predecessor, Barack Obama. A maior parte está num “contrato com o eleitor americano”, que divulgou em Outubro.
Reforma política
Trump quer impor limites de mandatos aos membros do Congresso, ter uma pausa de cinco anos até que congressistas, senadores e funcionários da Casa Branca possam tornar-se membros de grupos de pressão (lobbies), e congelar de contratações de funcionários federais.
Mas se Trump tem um Congresso e um Senado de maioria republicana, que facilitarão a aprovação de leis, é preciso notar que durante a campanha boa parte do partido abandonou o candidato, e que nem sempre os partidários do Presidente aprovam as suas reformas (como aconteceu com Bill Clinton e sua proposta de reforma de saúde).
Reverter reformas de Obama
Entre os objectivos do recém-eleito Presidente está ainda o reverter de legislação aprovada por Barack Obama, em especial o seu plano de saúde, conhecido como Obamacare. Trump argumenta que o programa fez aumentar os encargos em seguros para os americanos que não estão no programa do Governo, e promete um sistema com mais poder aos estados, embora não seja explicado exactamente como irá funcionar.
O senador Rand Paul (Kentucky) declarou após a vitória de Trump que a sua previsão “é que passemos o primeiro mês a aprovar reversões de leis e ordens de Obama.” Um conselheiro do republicano disse que foram identificadas “cerca de 25 ordens” que poderiam ser revertidas. “Trump vai passar algumas horas a assinar papéis – e apagar a Presidência Obama”.
Clima: permitir oleodutos e exploração de gás de xisto
Trump quererá ver-se livre de uma sucessão de medidas de protecção do clima, tendo prometido aprovar o oleoduto Keystone XL, para transportar petróleo extraído no Canadá (que se tornou uma das causas importantes de ambientalistas e foi rejeitado por Obama) e levantar restrições à exploração de gás de xisto. Anunciou ainda que iria cancelar as contribuições dos EUA para programas da ONU contra as alterações climáticas.
Imigração: mais do que um muro
O muro entre o México e os EUA foi a medida anti-imigração proposta por Trump que se tornou o símbolo do que o candidato pensava sobre o tema. Mas Trump tem ainda outras propostas que quer pôr rapidamente em prática: “remover os mais de dois milhões de imigrantes ilegais criminosos do país e cancelar vistos para países estrangeiros que se recusarem a recebê-los de volta”, ou “suspender a imigração de países permeáveis ao terrorismo”.
Política externa mais imprevisível
“Temos de nos preparar para o facto de a política externa americana vir a ser mais imprevisível no futuro”, disse o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, reagindo à vitória de Trump. No entanto, este já deu alguma ideia do que gostaria de fazer. Durante a campanha, Trump falou na possibilidade de anular, ou reformular, o acordo com o Irão sobre armas nucleares, e pôs em dúvida algumas obrigações na NATO. Mas estas questões não estão no manifesto para os primeiros cem dias: a questão mais urgente de política externa é, segundo o documento, a China. O republicano pretende declarar que o país é um “manipulador cambial” por, acusa, manter a sua moeda artificialmente alta.
Contra acordos de comércio livre
Trump manifestou-se contra a Parceria Trans-Pacífico, um acordo de comércio livre de grande envergadura ente os EUA e outros onze países (que foi aprovado mas não ratificado), e defendeu que sejam feitas alterações no acordo com o Canadá e o México (NAFTA), ou mesmo que os Estados Unidos se retirem do tratado comercial. A primeira não deverá ser difícil, já a segunda, com o partido republicano a ser por tradição defensor de comércio livre, poderá esbarrar numa oposição no Senado (é controverso se o Senado, que tem de aprovar adesões a tratados, também tem de aprovar do mesmo modo a acção contrária).