Eleição de Trump faz estragos nas renováveis

Exposição ao mercado norte-americano garantiu à EDP Renováveis o maior trambolhão na bolsa de Lisboa, mas a empresa não foi caso único no sector.

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António Mexia, presidente do grupo EDP, e João Manso Neto, presidente da EDP Renováveis Daniel Rocha

A expectativa de que a futura administração de Donald Trump irá ser mais pro-indústria do petróleo e do gás e menos generosa (em incentivos fiscais e ao investimento) com os produtores de renováveis do que a do seu antecessor, Barack Obama, fez afundar os títulos do sector das energias limpas.

A EDP Renováveis, que tem nos Estados Unidos o seu principal mercado - é de lá que já vem quase metade do lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) da empresa, ou seja, 357 milhões de euros até Setembro - foi mesmo a empresa mais penalizada da bolsa de Lisboa na sessão desta quarta-feira. Os títulos caíram 5,70%, para 6,086 euros, e levaram por arrasto os da “casa mãe” EDP, que recuaram 3,07%, para 2,84 euros.

Mas a EDP Renováveis não foi caso único no sector: a espanhola Iberdrola (que até Setembro foi buscar 36% do EBITDA aos Estados Unidos) também fechou a valer menos 2,051% em bolsa e as acções das fabricantes de turbinas eólicas dinamarquesa Vestas e alemã Nordex desvalorizaram-se mais de 8%.

O PÚBLICO tentou obter um comentário da EDP Renováveis à eleição de Donald Trump, mas a empresa optou por não responder. Mais uma vez, não foi caso único. Outras empresas expostas aos Estados Unidos, seja pela via directa das exportações, seja indirectamente pelos riscos de flutuação cambial e de volatilidade dos preços de matérias-primas, como o petróleo ou a pasta de papel, também rejeitaram fazer comentários.

Entre elas a petrolífera Galp – que tem nos Estados Unidos o mercado preferencial de exportação da gasolina produzida em Sines – e a farmacêutica Bial que realiza boa parte das vendas do seu fármaco para a epilepsia no mercado norte-americano.

Também no sector da pasta de papel, a Altri e a Navigator (esta última está a investir cerca de 90 milhões de euros numa fábrica de produção de pellets na Carolina do Sul) optaram por não fazer qualquer comentário à eleição de Donald Trump, que durante a campanha eleitoral fez valer uma visão proteccionista da economia norte-americana e pôs mesmo em causa a concretização do Tratado Transatlântico para o comércio e o investimento entre os Estados Unidos e a União Europeia (conhecido por TTIP).

No caso da EDP Renováveis, ainda que a empresa tenha optado por não fazer comentários no rescaldo dos resultados eleitorais, o entendimento é a de que os factores que “suportam as dinâmicas [de crescimento] do mercado” das renováveis nos Estados Unidos não se irão alterar com a mudança presidencial. Essa foi a garantia dada na semana passada pelo presidente da empresa, João Manso Neto, numa conversa com analistas após a apresentação de resultados trimestrais.

No quadro actual, um dos aspectos mais relevantes nesta dinâmica de crescimento são os chamados PTC, os créditos fiscais à produção renovável, que se estendem ao longo da vida útil dos projectos e que foram aprovados por maioria no Congresso norte-americano, não estando dependentes do presidente da República, explicou.

Por outro lado, se há vários Estados norte-americanos (como o Massachussetts, a Califórnia e Nova Iorque) a estabelecerem metas de renováveis na sua produção energética, há também muitas empresas a assegurarem o fornecimento de energia eléctrica a preço fixo, com contractos que podem ir até aos 20 anos, frisou Manso Neto.

“As renováveis não são só verdes, são também mais competitivas”, por isso “as empresas é que vão decidir a que preço querem comprar a electricidade”, sublinhou. Entre os seus clientes empresariais com contractos a preços fixos a EDP conta com a Home Depot ou a Amazon, por exemplo. Nos resultados até Setembro, a empresa destacou que cerca de 80% da sua capacidade instalada nos Estados Unidos está associada a contractos de remuneração de longo prazo, “o que permite uma maior visibilidade na geração de fluxos de caixa”.

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