Domingues em silêncio, tensão aumenta com o Governo

Presidente da Caixa manterá silêncio e espera decisão do TC e, depois, do Governo. Marques Mendes culpa Centeno e acha que Costa não sabia do acordo, mas não o livra da polémica.

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Miguel Manso

Sem que Mário Centeno diga uma palavra sobre a polémica, com António Costa a apoiar Marcelo na sugestão de entrega de uma declaração de património no TC e com a nova administração em silêncio, parece cada vez mais difícil de reverter o impasse na Caixa Geral de Depósitos. A nova administração do banco, sabe o PÚBLICO, mantém a sua posição de princípio e não tenciona apresentar voluntariamente os documentos no tribunal, havendo mesmo administradores indisponíveis para continuar se o tiverem de fazer.

António Domingues deve manter-se em absoluto silêncio nos próximos dias, aguardando uma decisão final do TC. Continua a entender que o problema deve ser resolvido pelo Governo e não se tem mostrado disposto a ceder, disseram várias fontes ouvidas pelo PÚBLICO. Nos contactos com o Executivo, nos últimos dias, Domingues lembrou que ele próprio colocou esta questão como prévia à aceitação do cargo - e que só nessas condições se sentiu à-vontade para fazer os convites para a sua equipa.

Se essa condição foi aceite até agora, o presidente da Caixa não entende como o Executivo socialista o deixou sozinho nesta polémica nos últimos dias (Costa pressionando, Centeno em silêncio depois da polémica resposta em que dizia não ter sido um acaso a sua exclusão do estatuto de gestor público). Se não houver evolução e se for obrigado a entregar declaração pelo tribunal, Domingues não excluirá mesmo sair do banco, como noticiou o Expresso no sábado.

Toda a situação da CGD faz subir a pressão política  sobre o ministro das Finanças e o seu secretário de Estado, Mourinho Félix, os dois homens que convidaram e negociaram directamente a entrada desta nova administração. Este domingo, na SIC, o conselheiro de Estado Marques Mendes acrescentou um ponto à história: disse não haver dúvidas que Centeno aceitou essas condições, interpretando as últimas declarações de António Costa como uma "total desautorização do ministro". Já sobre o próprio primeiro-ministro, Mendes ilibou-o da polémica, dizendo saber que Costa não sabia daquela combinação e até que, num Conselho de Ministros no Verão, Costa terá deixado claro que esta questão não se colocava.

Mas este é um ponto também em aberto na polémica, dada a versão da administração da Caixa de que a questão terá sido aberta e assumida por todo o Governo, Costa incluído. No comentário semanal, aliás, o conselheiro de Estado disse que Costa só falou no final do debate sobre o Orçamento, na Assembleia, para não ter que responder à oposição sobre este caso. Mais: “Podia perfeitamente ter sido mais claro quando falou na interpretação do Presidente e na do Tribunal. Faltou-lhe dizer ‘a minha é esta’.

"A gestão política deste dossiê tem sido um desastre", acrescentou Mendes na SIC. Já no sábado, o socialista Silva Pereira disse o mesmo numa reunião no PS. E o ex-dirigente do PS, Pedro Adão e Silva, antes dele, no programa "Bloco Central" da TSF.

O que o comentador da SIC antecipou ainda foram as cenas dos próximos capítulos: o TC "vai notificar" os administradores para entregarem declarações, talvez permita que estas fiquem em segredo apenas no que respeita aos dois administradores estrangeiros. Os restantes, Domingues incluído, não escapam. Mendes concluiu que o presidente da Caixa "não tem alternativa" que não passe pela entrega, que devia ser imediata e "voluntária", para que não seja "uma humilhação". E não excluiu, também, que Domingues acabe por se demitir de funções.

Com a polémica em lume quente, Centeno vai esta semana para Bruxelas, para uma reunião no Eurogrupo e também para falar no Parlamento Europeu sobre o caso das sanções.

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