O que está a mudar (ou tem de mudar) com o acordo de Paris?
A Agência Internacional de Energia fez o balanço do acordo de Paris, um ano depois da sua assinatura. Eis as principais conclusões.
O ponto fundamental do acordo vincula os países a manterem o aquecimento global “bem abaixo [já não apenas “abaixo”] de 2°C, face à era pré-industrial, e esforçarem-se para o limitar a 1,5°C. A Agência Internacional de Energia (AIE) faz um ano de balanço desde Paris, no relatório “Energia, Alterações Climáticas e Ambiente”. Eis o que conclui:
Compromissos até agora são insuficientes
A primeira ronda de compromissos nacionais leva a “um aumento da temperatura média global de 2,7°C em 2100 e acima de 3°C depois disso”. É uma previsão menos pessimista do que a do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (2,9 a 3,4) mas em linha com este.
Indústria e transportes têm de contribuir mais
“As acções para reduzir as emissões na indústria e transportes são críticas” para respeitar o acordo, diz a AIE. No conjunto, são responsáveis por 60% das emissões de CO2 entre 2015-50. De que precisam: tecnologias de sequestro de carbono, combustíveis alternativos e gestão mais eficiente.
Mais restrições para centrais a carvão e gás
Fornecem 63% da electricidade a nível mundial e geram 35% das emissões do sector de energia. A AIE pede políticas que “abatam” gradualmente estas centrais, com a introdução de um preço para o carbono e de tecnologias de sequestro de carbono.
Um preço para o carbono, mesmo modesto
A fixação de um preço para o carbono (por tonelada de CO2 emitido), mesmo que seja “moderado”, pode “incentivar o sector eléctrico a mudar para tecnologias de baixas emissões”, por penalizar as maiores emissoras. O preço do carbono ficou em aberto em Paris.
Paris empurra as energias renováveis
“O acordo de Paris está a dar um significativo empurrão ao investimento em energias renováveis”, constata a AIE, face às previsões de 2015. Ainda que insuficiente, a nova capacidade renovável, a curto e médio prazo, aumentou em 25 gigawatts/ano.
Apostar mais na parte invisível dos ganhos
A AIE observa a “emergência de uma mudança estrutural das economias, de sectores mais para menos intensivos em energia”. Exemplo: mais de dois terços do consumo evitado de energia na China, no período do 13º Plano Quinquenal, deveram-se a medidas de eficiência.
Empresas públicas são “actores-chave”
É uma perspectiva nova neste debate. Mais de 40% das centrais a energias fósseis no mundo são de empresas públicas (EP), que têm também 60% da capacidade renovável e nuclear, calcula a AIE. São, em muitos países, banca pública e de desenvolvimento (no Brasil e China), por isso, “actores-chave na transição energética”. “Têm de ser encontradas respostas” adequadas para estas, pede a AIE.