Há mais de 10 anos que em Itália o Home Movies - archivio nazionale del fil di famiglia resgata filmes de família para preservar uma herança cultural e uma identidade colectivas muitas vezes esquecida em sótãos, baús e fundos de gavetas. A missão é partilhada em Portugal pelo Arquivo Municipal de Lisboa- Videoteca e pelo projecto Traça. Desde 2015 que a Videoteca promove a apresentação pública de filmes, a maioria de curta duração, que ali estão depositados e que registam momentos do quotidiano dos portugueses, feitos em contexto familiar. “Apesar de em anos recentes ter crescido o interesse e o trabalho - de investigadores e cineastas - sobre e com filmes de arquivos privados, há ainda muitos aspectos - históricos mas também estéticos - deste cinema por conhecer e trabalhar", afirma a organização.

Paolo Simoni, co-fundador da Home Movies, vai mais longe: “Os estudos académicos e as cinematecas não estão preocupados em salvaguardar este material, não se considera que valha a pena ser salvo”, disse ao PÚBLICO. Com sede em Bolonha, o Home Movies é um arquivo nacional de iniciativa privada (com apoios pontuais do Estado) que reúne já mais de cinco mil horas de filmagens, datadas dos anos 20 até aos anos 90, que proporcionam, explica Paolo Simoni, “um acesso a um passado colectivo de pessoas e lugares”. O festival anual Archivio Aperto (que acontece por esta altura em Bolonha) é uma oportunidade para mostrar parte desse arquivo mas também as experiências cinematográficas que realizadores e artistas fazem a partir desse material. Por cá, a segunda edição da mostra Traça, do Arquivo Municipal de Lisboa, só acontecerá em Outubro de 2017, mas a organização apresenta-a este fim-de-semana, de 4 e 6 de Novembro, como forma de dar início à recolha de mais filmes amadores, especificamente no bairro da Madragoa, que servirão de base para a programação. Paolo Simoni estará presente para mostrar filmes do arquivo italiano. As sessões têm lugar na Cinemateca Portuguesa, e no domingo no Espaço Alkantara, na Madragoa.