A varanda mais bonita de Lisboa

Lisboa deu à luz um dos seus pontos de luz mais brilhantes na sua constelação museal

Foto
Enric Vives-Rubio

Lisboa foi mãe há pouco tempo. Não foi um parto fácil, foi a ferros, mais concretamente em Belém, mas correu tudo bem e o nascituro encontra-se muito bem de saúde. Deu à luz o seu mais recente ex-líbris de arte contemporânea, e é tão bonito! Chama-se MAAT para os amigos mais próximos e cumprimenta-nos todos os dias com o seu esplendor quase mudo, espraiando-se pela paisagem como uma onda frescura. Lisboa deu à luz um dos seus pontos de luz mais brilhantes na sua constelação museal. Para os restantes, é o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia.

Lisboa está mais deslumbrante, é para mim dos museus mais apolíneos. Faz-me lembrar em parte o Guggenheim de Bilbao. Toda a sua expressão é convidativa, tem uma linguagem universal e o seu miradouro (para mim a varanda!) oferece-nos uma vista encantada da cidade. Uma varanda onde colocamos a secar os nossos pensamentos menos enxutos, onde apanham ar e se encontram. Não existe uma única vez que não o visite e que não fique pasma com a sua magnificência. A sua "mãe humana", Amanda Levete, tinha em mente que ele passasse despercebido "A ideia é que pareça a paisagem, deixando a vista livre para a cidade e para o rio". Bem, o quadro não é bem esse. Existe claramente uma simbiose entre os elementos, mas ninguém consegue desprender o olhar à medida que se aproxima dele. Há uma osmose entre os ativos naturais do local, tendo uma moldura narrativa arquitetónica sensível ao património cultural do sítio que a recebeu. No seu sopé fazem-lhe cócegas o percurso pedonal da frente ribeirinha, onde vemos por cima das nossas cabeças a sua cobertura cinética. Um movimento ondulante que abraça graciosamente toda a paisagem.A sua majestosa fachada sul é o seu maior encanto sendo esta um grande refletor em interação com a luz do rio e em combinação com os seus mosaicos que criam mágicos efeitos luminosos, tendo em conta o período do dia e do ano. Nas suas vísceras, encontramos quatro espaços expositivos, a Galeria Oval, Galeria Principal, Video Room e Project Room, que serão espaços privilegiados e ocupados com o decorrer do tempo com vários tipos de arte. Enfermarias onde se irá dar à luz muita arte.... independentemente da sua numeração.

É um íman visual que nos chama deliciosamente como a doce voz das tágides, e nós vamos ao lado do Tejo até ele sob um certo efeito de hipnose contagiante de beleza arquitetónica. Existe um diálogo itinerante entre as pessoas e o edifício. É um ponto de encontro. Eu continuo a procurar a sua companhia todas as semanas. Desde corridas matinais, a tardes refletidas em azulejos, a noites empoleiradas naquela varanda, não há momento que não fique fascinada com este cenário. Não sou a única. Não existiu um único momento em que saboreasse aquela varanda sozinha, pois ela está sempre ocupada... desde curiosos, a desportistas, a namorados, a solitários. É de uma beleza sem volumetria... Mas tudo isto são os meus olhos estupidamente deslumbrados. Perdoem-me a descrição tão entusiasta, mas é o que sinto cada vez que me aproximo desta obra de arte… não o consigo descrever de outra maneira!

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