Albufeira investe 15 milhões num túnel para se defender contra as cheias
No leito de cheias construiu-se uma avenida. Com o Inverno à porta, paira a memória dos acontecimentos de há um ano, quando a água chegou ao tecto das casas. Agora investe-se em betão para combater os problemas ... que o betão provocou
A câmara de Albufeira vai construir um túnel destinado a desviar as águas da ribeira para mar, procurando libertar das inundações a baixa da cidade A obra, estimada em 15 milhões de euros, tem por objectivo evitar situações, como as que se verificaram no dia de Todos-os-Santos do ano passado, quando a água subiu quase ao tecto de algumas casas. “Queremos a obra para ontem”, declarou o presidente do município, Silva e Sousa, referindo-se à urgência de executar um plano que pretende minimizar os efeitos dos erros urbanísticos acumulados ao longo de décadas.
Na apresentação do Plano Geral de Drenagem de Albufeira, desenvolvido pela Hidra – Hidráulica e Ambiente, José Saldanha Matos, apresentou soluções de curto e médio prazo para resolver os bloqueios de uma cidade que construiu uma avenida num antigo leito de cheia. “A natureza escolhe o seu caminho se não houver outra forma da água se espraiar", alertou o catedrático do Instituto Superior Técnico, deixando o aviso: “Não admira que haja inundações em Albufeira, tal como há em Alcântara”. No fundo, disse, trata-se de zonas baixas, vulneráveis quando se conjuga a preia-mar com uma forte precipitação. Os prejuízos das cheias de 2015, em Albufeira, foram calculados entre os 15 e os 20 milhões de euros.
O autarca social-democrata manifestou-se determinado em concretizar o mais depressa possível o plano de drenagem, começando pela construção do túnel. “Há uma coisa que está garantida, não vai ser por falta de financiamento que a obra vai deixar de ser feita”, enfatizou. Assim que haja condições - feitos os projectos e lançados os concursos internacionais -, garante passar de imediato à fase de execução: “A nossa vontade é que a obra comece ontem”, sublinhou. “Não é só com construção”, advertiu José Saldanha Matos, que se resolvem os crónicos problemas da cidade. “Tem de haver conhecimento”, frisou, referindo-se a uma rede de águas pluviais e domésticas alargada à medida dos interesses urbanísticos.
O investimento previsto em todo o plano de drenagem situa-se entre os 30 e os 40 milhões, a executar num prazo de 15 anos, que tem como horizonte a resolução dos problemas de inundações durante um século.No imediato, o especialista do Técnico lembrou que há coisas bem simples, e económicas, tais como fazer uma boa gestão da rede de colectores, com 190 quilómetros, cuidar da sua limpeza e ter o cadastro actualizado. Outra sugestão deixada pelo especialista da Hidra: elaboração de um Plano de Emergência para que a Protecção Civil e outros serviços municipais possam actuar em “tempo real” em caso de inundações.
Quando a câmara decidiu, em 2009, o encanamento da ribeira de Albufeira, num troço de 800 metros, a Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Algarve recomendou que fossem feitas quatro bacias de retenção. A proposta, não acatada pelo município, destinava-se a reduzir o perigo de “inundações” na baixa da cidade, como veio a acontecer no ano passado. A intervenção no leito da ribeira custou mais de sete milhões de euros, servindo para aumentar o parque urbano em zonas sensíveis do ponto de vista ecológico.
Sobre as bacias de retenção, preconizadas pela ARH, o coordenador do Plano Geral de Drenagem (PGD) de Albufeira adiantou que estas estão previstas, embora com menor dimensão e para executar numa segunda fase dos trabalhos. A ribeira de Albufeira, que integra uma bacia com 2660 hectares, não tem ainda um sistema que permita medir os seus caudais, ao contrário do que sucede ao lado, na ribeira de Quarteira. A construção do túnel, obra considerada prioritária, não resolve todos os casos de inundações na baixa da cidade. A rua Cândido dos Reis, admitiu Saldanha Matos, “vai ter sempre alguns problemas, mas isso resolve-se à holandesa - com uma estação de bombagem”. Esse método, explicou, é usado num país que está abaixo do nível médio da água do mar mas que não sofre grandes inundações.