Museu do Prado dedica a sua primeira exposição a uma pintora

A belga Clara Peeters é uma das poucas mulheres a pintar no barroco.

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Bodegón con flores, copa de plata dorada, almendras, frutos secos, dulces, panecillos, vino y jarra de peltre, de 1611, óleo do Museu do Prado Museu do Prado

O Museu do Prado inaugurou esta semana a primeira exposição dedicada a uma pintora na história de 200 anos da instituição espanhola. Na sua colecção, o museu de Madrid guarda obras de 5000 artistas homens e 41 mulheres, tendo exibido durante muitos anos na exposição permanente apenas obras da pintora flamenga a que agora dedica a sua primeira monográfica intitulada A Arte de Clara Peeters, como escreve no El País a historiadora de arte Estrella de Diego.

Em Lisboa, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), por exemplo, já teve duas exposições dedicadas a Josefa d´Óbidos, a pintora portuguesa que tal como Clara Peeters trabalhou durante o século XVII em temas muito semelhantes. Umas das mais famosas retratistas do Antigo Regime francês, Vigée Le Brun, responsável pela imagem que hoje temos de Maria Antonieta, foi apenas objecto de uma retrospectiva em França no ano passado, notava a New York Review of Books no início deste ano quando a exposição chegou ao Metropolitan Museum de Nova Iorque.

A exposição do Prado, co-organizada pelo Museu Real de Belas-Artes de Antuérpia, reúne 15 obras da pintora barroca especializada em naturezas-mortas que produziu apenas quatro dezenas de pinturas. A Arte de Clara Peeters, que já foi apresentada na Bélgica, tem como comissário Alejandro Vergara, conservador de pintura flamenga do Prado, e inclui quatro obras do museu.

Esta mulher que nasceu em Antuérpia “pertence à primeira geração de artistas europeus especializados em naturezas-mortas e é uma das escassas mulheres que pôde dedicar-se profissionalmente à pintura na Europa da Idade Moderna”, escreve o comunicado de imprensa do Prado. Sobre a vida de Clara Peeters, que terá nascido no final de 1580 e foi contemporânea de Rubens e Van Dyck, sabe-se muito pouco, embora a pintora tenha introduzido auto-retratos no reflexo dos objectos que representava nas suas pinturas.

Nas suas naturezas-mortas pioneiras, Peeters revela um estilo, descreve o Prado, “que insiste na aparência real das coisas, premissas que revelam um espírito empreendedor e uma mentalidade vanguardista”, já que, quando começou a trabalhar este género, “o realismo oferecia-se como alternativa ao idealismo da tradição renascentista”.

José Alberto Seabra Carvalho, director-adjunto do MNAA, que considera Clara Peeters uma “excelente 'bodegonista', com aquele sentido do bem acabado das naturezas-mortas do norte”, recorda as duas exposições dedicadas à pintora barroca portuguesa realizadas no museu das Janelas Verdes, uma em 1949 e outra em 2015. Nessas, sublinha, a produção da pintora portuguesa aparecia acompanhada da do pai. 

Para a região da Flandres, lembra o Prado, Catharina van Hemessen (1527/28-1560) é a primeira mulher artista sobre a qual há documentação e uma das primeiras a ter trabalhado na Europa. Nasceu em Antuérpia, e tal como Josefa de Óbidos, foi a profissão do pai, o pintor Jan Sanders van Hemessen, que lhe permitiu aprender em casa. Fazia principalmente retratos.

Uma das mulheres pintoras mais reconhecidas no início da Idade Moderna foi Artemisia Gentileschi, nascida em Roma em 1593 e filha do famoso pintor Orazio Gentileschi. Ela é uma das "estrelas", escreve o Guardian, da exposição Beyond Caravaggio, dedicada à influência do pintor italiano nos seus contemporâneos, que abriu este mês na National Gallery em Londres.

A Arte de Clara Peeters está no Prado até Fevereiro.

 

 

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